terça-feira, 19 de julho de 2011

Só sei que nada sei


Faz vinte e cinco séculos que Sócrates proferiu sua máxima “Só sei que nada sei”. Com essas palavras ele reagiu ao oráculo de Delfos, que o reconhecia como sendo o mais sábios de todos os homens. E ao mesmo tempo deu provas de sua humildade. Apesar de ser o pai da filosofia, ele nunca proclamou ser sábio, e sempre dizia que sua sabedoria era limitada à sua própria ignorância. (sic) Pode ser que aja certa dose de ironia nesta sentença por parte de Sócrates. Indiretamente, pode ser que ele queria dizer que se, ele nada sabe, os outros sabem menos ainda. Podemos dizer que este é o princípio do aprendizado, do conhecimento. Não é a confissão de total ignorância, mas sim o reconhecimento que existe um universo de coisas a serem aprendidas. E mais: uma outra maneira de desenvolvermos nosso treinamento cognitivo, ainda que seja um incômodo, seria: aplicar um ponto de interrogação nas nossas certezas e convicções, evitar todo tipo de dogmatismo, colocar em cheque até mesmo se necessário os axiomas relacionados à bíblia. Por outro lado, a arrogância, a soberba, em termos de conhecimento, seja prático ou teórico, além de ser sinal de insegurança, é também o princípio da ignorância. Toda prepotência revela insegurança. É sempre bom salientar que um dos postulados mais básicos da filosofia é saber que quanto mais se sabe, melhor se sabe que nada sabe. Ou seja: quanto mais conhecimento se adquire mais aprendemos que temos mais para aprender. Mais para isso é necessário ser humilde. E a prepotência não combina com a humildade. Eu particularmente prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo, que é primeiro indício de que conceitos precisam ser urgentemente revistos.

Concordo plenamente com Mário Sergio Cortella que escreveu no seu livro não espere pelo epitáfio, que devemos duvidar da afirmação de algumas máximas antigas como por exemplo: Quem espera sempre alcança, A pressa é inimiga da perfeição, A vingança tarda mais não falha, Deus ajuda a quem cedo madruga, Vaso ruim nunca quebra, Quem não deve não teme, Quem viver verá, Cão que ladra não morde, Tal pai tal filho e etc... Estes são exemplos de afirmações seculares, porém frágeis. Todos estes aforismos são passiveis de se colocar uma interrogação ao final deles. São relativos.
Isso tudo pode se aplicar ao conhecimento das escrituras. Existem vários temas que ainda estão sendo objetos de debates e estão muito longe de um consenso, entretanto muitos já os consideram como sendo verdades absolutas.  
 A escatologia por exemplo. É um entre os temas teológicos mais debatidos, contudo a probabilidade de chegar a um denominador comum é zero. Eu Donizete, quanto mais estudo esta doutrina mais confuso fico, e não é por falta de não querer me aprofundar no assunto. Eu que sempre fui defensor da teoria do pré-tribulacionismo, cheguei à conclusão que Jesus pode arrebatar a Igreja tanto antes, como durante, como também depois. Eu que sempre julguei a interpretação futurista do apocalipse como sendo a mais coerente, já a coloquei como sendo uma das que merecem ser melhores estudadas.
Uma das ponderações que eu faço com os alunos da EBD, é de que evitem ao máximo fazer uso daquele hábito adquirido de sempre que for fazer menção da Bíblia, usar a expressão: “em tal lugar está escrito” no sentido de querer endossar ou afirmar alguma conjectura. As afirmações direta das escrituras, como é conhecida esta prática nos meio teológicos, são usadas geralmente como trunfo em uma discussão ou debate, sem considerar que uma afirmação direta tem autoridade até o ponto em que essa afirmação seja interpretada de modo correto dentro do seu contexto literário e histórico. Pois pode ser que o texto citado esteja muito longe de dizer o que aparentemente diz. Uma das regras básicas da hermenêutica é de que o contexto (macroexegese) deve ter a prioridade no entendimento das escrituras. E um texto fora do seu contexto pode servir de fundamento para formulação de qualquer doutrina, de qualquer pensamento.
Lembre-se: A dúvida é uma arte, pois ela por sua vez trás a busca pelo conhecimento, e este explora o novo, quebra paradigmas e pode trazer a convicção plena. Num mundo de relativos, muitas afirmações pode representar um suicídio intelectual.

Um abraço. Donizete

2 comentários:

  1. Antonio Carmino de Oliveira Neto8 de setembro de 2011 às 14:01

    É muito bom alguém ter a mente aberta e as vezes rever conceitos que antes pareciam absolutos e inquestionáveis.

    Porém talvez o termo "metamorfose ambulante" não seja o ideal para nossas vidas, afinal ficar mudando de opinião a toda hora nos leva acreditar que todas as nossas conclusões são feitas sem nenhum critério.

    O fato de reavaliar uma oponião não quer dizer necessariamente que nós temos que mudá-la.

    A reavaliação pode mudar nossa maneira de pensar, mas pode também vir também a confirmar algo que nossa opinião já acreditava ser a correta.

    Tem um trecho da música "metamorfose ambulante" que diz o seguinte:

    -------------
    ...se hoje eu sou estrela eamanhã já se apagou.
    Se hoje lhe odeio e amanhã lhe tenho amor.
    Já quero dizer, o oposto do que eu disse antes...
    -------------

    Que parâmetros um filho vai ter para se espelhar num pai assim? Ou o discipulo se espelhar num mestre assim?

    Agora com certeza, pior do que ser uma metamorfose ambulante, é ficar formando opiniões de coisa que não sabe e não entende. Como diz um veho provérbio chinês:

    Não fale tudo o que sabe,
    Não acredite em tudo que ouve,
    Não gaste tudo o que tem

    Porque
    Quem fala tudo o que sabe,
    Acredita em tudo que ouve,
    Gasta tudo o que tem,

    Muita vezes
    Fala o que não convém,
    Julga o que não vê,
    gasta o que não deve.

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  2. Carmino,
    Pegando um gancho nas palavras de um pensador da blogosfera que disse:
    A nossa efêmera, mas emocionante existência é um constante caminhar de desconstruções construídas e construções desconstruídas das mortes e nascenças das multiformes ao longo da vida.
    Inicia-se no ventre materno, morre-se a forma de espermatozóide, para que nasce o bebê.
    Depois, aprendemos a andar e balbuciar as primeiras palavras, morre-se a forma de bebê para dar lugar a uma criança.
    Mais tarde, morre-se a forma de criança para dar lugar a de adolescente.
    Mas diariamente muitas outras e variadas formas vão morrendo, para que muitas outras ocupem o seu lugar, pois a nossa vida não é estática, ela é dinâmica e impulsionadora do existir.
    Quando disse que prefiro ser uma metamorfose ambulante, me referi a morte das formas, da maneira como muitos consideram o que sabem e julgam ser verdades. Sei que devemos formar opinião acerca de qualquer assunto. Ter convicções sobre outros etc...
    Saber que nada sabe, como eu disse, não é a confissão de total ignorância, mas sim o reconhecimento que existe um imenso universo de coisas a serem aprendidas. E talvez um universo não menos menor de coisas que precisam ser revistas, reaprendidas, atualizadas, recicladas etc...Quem nunca viveu uma crise epistemológica?
    Quem nunca perguntou a si mesmo:será que o que eu sustento como verdade absoluta merece este status? Devo considerar ou ignorar as vertentes dessa verdade?
    Minha reflexão consiste em desmistificar esse conceito de que nem tudo o que aparenta ser alguma coisa é de fato. Entretanto. esse reconhecimento é sem dúvida, um processo dolorido da cognoscibilidade humana. A capacidade de fazer revisão, de dar ré é complicada demais.
    Volte sempre.

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