Por Donizete
O homem até tenta
desenvolver sua espiritualidade de maneira autônoma, livre da interferência de
terceiros. Mas como disse no texto anterior, não há meios que permitam a concretude
desse interesse.
Somos carentes de vida em
comunidade, ninguém deve usurpar de si esta prerrogativa! O que não podemos
ignorar é a diferença abismal que existe entre “agrupamento” e “comunidade”.
Comunidade pressupõe
partilha de interesses e cuidado protetor mútuo, enquanto agrupamento é uma
simples agregação de pessoas com raros objetivos comuns, pontuados às vezes
apenas pelo cinismo utilitarista. Esta ruptura social, podemos chamá-la assim,
é própria de grandes centros urbanos, que mesmo sendo densamente povoado, tem
como isolamento e solidão sua principal marca, característica inexorável de uma
convivência forçada entre as pessoas.
Na mente de muitos impera
o famoso aforismo “antes só do que mal acompanhado”. Mas no meu humilde ponto
de vista, o pensador Paul Valery está com a razão, quando diz: “um homem
sozinho está sempre em má companhia”.
Por estas e outras razões que, em meus
devaneios traço o perfil da comunidade cristã que procuro. Uma comunidade que atenda às minhas
expectativas. Utópicas? Sim! Mas tenho a esperança como um princípio vital. Devemos
sempre sonhar com o mais e o melhor. A esperança não é nem realidade nem
quimera, ela é quem sustem nossa luta pelo desejado, ansiado e querido.
Por isso publiquei em
redes sociais este cartaz:
Procura-se uma comunidade
que não obstante, jamais se deixar influenciar pelo secularismo, atente com uma
outra ótica para a geração pós-moderna, contextualizando-se.
Que conceba os problemas existenciais que emergem como resultado de nossa humanidade, e não como déficit de uma espiritualidade tradicional forjada em seu próprio arcabouço doutrinário.
Uma comunidade que tenha uma
consistência teológica em sua cosmovisão, com capacidade de observar a cultura
criticamente, identificando nela os pontos de contato com o evangelho e os
pontos que funcionam como antídoto ao evangelho.
Uma comunidade que não sucumba ante a
religiosidade, que ensine que a performance pessoal, a moralidade acima da
média e o intenso ativismo, decisivamente não deve ser confundida com a
legítima espiritualidade cristã.
Procura-se uma comunidade que tenha resistido ao
mercado da fé, que não tenha transformado o evangelho em um “business” e seus pastores
em executivos visionários, que fazem do púlpito um balcão de negócios.
Uma comunidade que esteja disposta a renunciar a
rotulação de reformados, evangélicos, católicos, e outras terminologias, para
se definir estritamente como discípulos de Cristo, tendo consciência da
amplitude que tal definição acarreta.
Uma comunidade, que quando for atuar diretamente na
esfera política-social, seja de fato um agente de transformação, e não um
agente de manipulação das massas, para que seus líderes alcancem o poder com a
mesma motivação corrupta daqueles que o detém na atualidade.
Uma comunidade cujos líderes, se abdiquem de um
modelo de igreja cheia de eventos, encontros, congressos e atividades que
servem apenas como meio de receita, para se abrir a uma predisposição de fazer
menos com mais objetividade, e canalizar seus recursos na sua totalidade no bem
estar do ser humano.