domingo, 24 de junho de 2012

COMUNIDADE UTÓPICA



Por Donizete

O homem até tenta desenvolver sua espiritualidade de maneira autônoma, livre da interferência de terceiros. Mas como disse no texto anterior, não há meios que permitam a concretude desse interesse.

Somos carentes de vida em comunidade, ninguém deve usurpar de si esta prerrogativa! O que não podemos ignorar é a diferença abismal que existe entre “agrupamento” e “comunidade”.

Comunidade pressupõe partilha de interesses e cuidado protetor mútuo, enquanto agrupamento é uma simples agregação de pessoas com raros objetivos comuns, pontuados às vezes apenas pelo cinismo utilitarista. Esta ruptura social, podemos chamá-la assim, é própria de grandes centros urbanos, que mesmo sendo densamente povoado, tem como isolamento e solidão sua principal marca, característica inexorável de uma convivência forçada entre as pessoas.

Na mente de muitos impera o famoso aforismo “antes só do que mal acompanhado”. Mas no meu humilde ponto de vista, o pensador Paul Valery está com a razão, quando diz: “um homem sozinho está sempre em má companhia”.

Por estas e outras razões que, em meus devaneios traço o perfil da comunidade cristã que procuro.  Uma comunidade que atenda às minhas expectativas. Utópicas? Sim! Mas tenho a esperança como um princípio vital. Devemos sempre sonhar com o mais e o melhor. A esperança não é nem realidade nem quimera, ela é quem sustem nossa luta pelo desejado, ansiado e querido.

Por isso publiquei em redes sociais este cartaz:

Procura-se uma comunidade que não obstante, jamais se deixar influenciar pelo secularismo, atente com uma outra ótica para a geração pós-moderna, contextualizando-se. 


Que conceba os problemas existenciais que emergem como resultado de nossa humanidade, e não como déficit de uma espiritualidade tradicional forjada em seu próprio arcabouço doutrinário.


Uma comunidade que tenha uma consistência teológica em sua cosmovisão, com capacidade de observar a cultura criticamente, identificando nela os pontos de contato com o evangelho e os pontos que funcionam como antídoto ao evangelho.

Uma comunidade que não sucumba ante a religiosidade, que ensine que a performance pessoal, a moralidade acima da média e o intenso ativismo, decisivamente não deve ser confundida com a legítima espiritualidade cristã. 

Procura-se uma comunidade que tenha resistido ao mercado da fé, que não tenha transformado o evangelho em um “business” e seus pastores em executivos visionários, que fazem do púlpito um balcão de negócios.

Uma comunidade que esteja disposta a renunciar a rotulação de reformados, evangélicos, católicos, e outras terminologias, para se definir estritamente como discípulos de Cristo, tendo consciência da amplitude que tal definição acarreta.

Uma comunidade, que quando for atuar diretamente na esfera política-social, seja de fato um agente de transformação, e não um agente de manipulação das massas, para que seus líderes alcancem o poder com a mesma motivação corrupta daqueles que o detém na atualidade.

Uma comunidade cujos líderes, se abdiquem de um modelo de igreja cheia de eventos, encontros, congressos e atividades que servem apenas como meio de receita, para se abrir a uma predisposição de fazer menos com mais objetividade, e canalizar seus recursos na sua totalidade no bem estar do ser humano.

sábado, 2 de junho de 2012

Igreja comunidade & igreja sociedade



Por Donizete.

É fato que existem os efeitos colaterais nas chamadas "igrejas famílias". Toda comunidade onde sob a título de testemunho, são compartilhados, tanto os problemas como os sucessos, é comum surgirem as intromissões, a inveja, a fofoca etc... mas no meu convívio neste contexto, o que tenho observado, é que as mãos estendidas para prestar ajuda ao outro, é o que tem ocorrido com maior frequência.

Posso testemunhar que vivi momentos de crises neste ambiente. E foi justamente nesta hora em que, os problemas e as divergências emergiram, que pensei em procurar uma comunidade onde me mantivesse no anonimato, em total isolamento. 

Seria mais ou menos de acordo com a diferenciação que faz o Leonardo Boff entre a “igreja sociedade” e a “igreja comunidade”. A priori pensei ter no primeiro modelo, a melhor maneira de adorar a Deus. Pois ali eu viveria minha espiritualidade de maneira mais autônoma, onde estaria livre de qualquer compromisso ou missão, se não a de marcar presença no culto dominical. Ledo engano! Pois não existe adoração legítima, se esta estiver desconectada de serviço. E não existe serviço se não houver participação e unidade com os demais. 

Como sabiamente disse alguém: “o contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença”. 

E esta consciência crística nos leva naturalmente ao envolvimento com as adversidades alheias, bem como de poder estar compartilhando dos momentos festivos e de alegria.

Cheguei a conclusão que os laços de fraternidade é essencial para a eliminação de diferenças e necessidades. Onde se prevalece o fator comunidade, fé e vida se fortalecem concomitantemente, minorando as crises existenciais entre seus membros. 

O fato de muitos historicizarem experiências desagradáveis no seio de uma comunidade não deve condená-la por completo. Pois se numa família nuclear existem tantos desafios a serem enfrentados para manter a estabilidade da mesma, imagine esta família multiplicada por cem?


Este texto é na verdade um comentário meu ao excelente texto do rodrigo na confraria teológica. www.logosemithos.blogspot.com