Deus abençoa financeiramente os fiéis, sou o mais próspero dentre todos na comunidade. Logo, minha prosperidade material é prova inconteste da minha fidelidade. É com esta lógica perversa que muitos líderes eclesiásticos ostentam suas riquezas sem ter a mínima discrição e consideração pelos seus subordinados que em muitos casos são os responsáveis diretos pelo seu sucesso ministerial e financeiro. E estes por sua vez não ousam questionar, pois segundo sua cosmovisão, estas aquisições são um sinal indiscutível da aprovação divina no seu ministério. Estão vivendo o que pregam, dizem! E até os estabelecem como o exemplo a serem seguidos, sem levar em conta que a possibilidade de enriquecer somente por servir a Deus é igual à de um líder de uma grande organização religiosa ser pobre e carente de recursos. Isto é, nenhuma! Há alguns anos Ronaldo o fenômeno desfilou palas ruas do Rio de janeiro com uma Ferrari avaliada em mais de um milhão de reais. Porém o que deixou boa parte da mídia perplexa, e por isso a repercussão teve conotação negativa, foi o fato de o jogador ter dito que no Brasil é mais divertido ter uma Ferrari, pois foge do comum. No Brasil o status é diferente do que na Europa onde ser rico faz parte do trivial. Na época esta afirmação foi considerada uma afronta à grande maioria dos brasileiros que não tem direito a nem sequer o mínimo de dignidade no que tange aos seus meios de locomoção.
E não é por acaso que os magnatas do meio evangélico, não satisfeitos com o anonimato em meio a tantas celebridades, e com o pretexto de possuir um status de líder moderno e revolucionário, com a clara pretensão de mostrar um estereotipo modernista, têm trabalhado para que, nos mesmos moldes da revista CARAS, encontre um meio de estampar suas proezas no que se refere ao poder aquisitivo e o estilo de vida glamouroso que possuem. Isto é, para eles o padrão de humildade e desprendimento nos quais os obreiros do passado pautavam seus ministérios são ultrapassados e falidos. Transmite a idéia de fracasso. Por isso pousam com toda pose no afã de ostentar suas riquezas e seu poder. A mensagem central que estes sanguessugas do dinheiro alheio tentam passar a sociedade, é de que não adianta apenas pregar o evangelho. É preciso um púlpito acarpetado com tapete vermelho que comunica a idéia de requinte e glamour. Uma cadeira centrada com dimensões e estofamento diferente para não ser confundido com qualquer um. Precisa ter o melhor carro, aliás, como prova da sua excentricidade ser um colecionador, de preferência de marcas importadas. É preciso apresentar-se também como tendo inúmeras alianças políticas, para deixar claro aos seus subalternos que sua autoridade transcende os limites eclesiásticos, e que, para ser um líder respeitado, no melhor modelo maquiavélico, algumas virtudes como humildade, mansidão e amor precisam ser ignorados. E numa clara demonstração de terrorismo psicológico apontar que uma decisão pastoral tem valor convencionalmente celestial, e que qualquer divergência de idéias será tratada como rebelião e quando identificada terá como conseqüência a ruptura do indivíduo com o ministério. E estes, dotados daquele temor que levou Davi a não cometer nenhum ato contra Saul, pois este último seria o representante legítimo de Deus, consideram um ultraje um simples ponderar acerca das resoluções tomadas unilateralmente pelo seu líder maior. Há! é preciso também ter um jatinho particular para melhor ostentar a posição de ungido do Senhor. Agora, cada um faz o que quer da sua imagem. Acredito até que há profissionais assessorando suas carreiras. E também não cabe a mim julgar precipitadamente o crescimento “palociano” de seus bens. A indignação ocorre pelo fato de, enquanto o líder máximo revela de forma tão provocativa (estilo Ronaldo) seu poder aquisitivo, a maioria absoluta daqueles que estão sujeitos a suas ordens come o ”pão de Ezequiel” para, por amor fazer a obra de Deus.
Até a próxima. Donizete.