terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Fundamentalismo


Fundamentalismo













  

  




Essa breve reflexão, serve como um convite para melhor entendermos o fenômeno e criar clareza sobre este tema tão polêmico, para podermos nós mesmos superar certas dimensões fundamentalistas embutidas em nossa cultura, quem sabe até em certos comportamentos pessoais.

Na verdade o termo fundamentalismo tornou-se a palavra de acusação em voga. Entretanto fundamentalista é sempre o outro. Quando é aplicado para nós mesmos, geralmente preferimos o emprego de outros termos.

Existem fundamentalismos em todas as áreas, ainda que em muitas delas, preferem o uso do termo “radicalismo”. Ele está presente nas religiões, na política, na economia, e, em tantas outras ideologias. Os fundamentalismos estão aí com grande ferocidade, e representa um risco para a pacífica convivência humana e para o futuro da humanidade.

O fundamentalismo cristão atual, que é o objeto de discussão nesta postagem, tem sua origem no protestantismo norte americano do século XIX. O termo foi cunhado em 1915, quando professores de teologia da universidade de Princeton (numa contra ofensiva ao liberalismo teológico nascente)  publicaram uma coleção de doze volumes com o título. “fundamentalismo. Um testemunho da verdade”.

Neles propunham um cristianismo extremamente rigoroso, ortodoxo, dogmático, como orientação contra a avalanche de modernização de que era tomada a sociedade norte americana.

A tese dos fundamentalistas no âmbito religioso é afirmar que a Bíblia constitui o fundamento básico da fé cristã e deve ser tomada ao pé da letra. O fundamento de tudo para a fé protestante é a Bíblia. Cada palavra, cada sílaba e cada vírgula, dizem os fundamentalistas, é inspirada por Deus. Como Deus não pode errar, então tudo na Bíblia é verdadeiro e sem qualquer erro. Como Deus é imutável, sua palavra e suas sentenças também o são. Valem para sempre.

Em nome deste literalismo, os fiéis opunham-se às interpretações da assim chamada teologia liberal. Esta usava os métodos histórico-críticos e hermenêuticos para interpretar textos escritos há dois, três mil anos.

Nos métodos supracitados, parte-se do princípio de que a história e as palavras não ficaram congeladas no passado. Elas mudam de sentido ou ganham novas ressonâncias com as mudanças dos contextos históricos. Por isso precisam ser interpretadas para que seja resgatado o sentido original.

Este procedimento para os fundamentalistas é ofensivo a Deus, obra de Satanás. A Bíblia, não precisa ser interpretada, ela á a Palavra de Deus, e o Espírito Santo ilumina as pessoas para compreender os textos. Por razões semelhantes se opõem aos avanços contemporâneos da história, das ciências, da geografia e especialmente da biologia que possam questionar a verdade bíblica.

Para o fundamentalista, a criação se realizou mesmo em sete dias. O ser humano foi feito literalmente de barro. Eva é tirada da costela física de Adão. O preceito “crescei e multiplicai-vos, enchei e subjugai a terra, dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre tudo o que vive e se move sobre a terra” deve ser tomado estritamente ao pé da letra, pouco importando-se essa dominação venha por em risco a biosfera. Mais ainda: só Jesus é o caminho, a verdade e a vida, o único e suficiente salvador. Fora dele há somente perdição.

Em face dos demais caminhos, o fundamentalismo é intolerante, na moral é especialmente inflexível, particularmente no que concerne a sexualidade e a família. É contra os homossexuais, o movimento feminista e os demais processos libertários em geral.

O fundamentalismo não é uma doutrina. Mas uma forma de interpretar e viver a doutrina. É assumir a letra das doutrinas e normas sem cuidar de seu espírito e de sua inserção no processo sempre variável da história.

Fundamentalismo representa aquele que confere caráter absoluto ao seu ponto de vista.
Imediatamente surge grave conseqüência: quem se sente portador de uma verdade absoluta não pode tolerar outra verdade, e seu destino é a intolerância. E a intolerância gera o desprezo do outro, e o desprezo, a agressividade, e a agressividade, a guerra contra o erro a ser combatido e exterminado. Irrompem conflitos religiosos com incontáveis vítimas.

Não há ninguém mais guerreiro do que a tradição dos filhos de Abraão: judeus, cristãos e muçulmanos. Cada qual vive da convicção tribalista de ser o povo escolhido e o portador exclusivo da revelação do Deus único e verdadeiro.

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Bibliografia: Fundamentalismo. A globalização e o futuro da humanidade. Leonardo Boff.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Foi Jesus liberal?


Esta é uma das grandes verdades que inferimos dos evangelhos! sim, Jesus era um liberal. Conforme diz um dos maiores exegetas da atualidade: disso não se pode tirar nem um fio de cabelo, embora as igrejas e os piedosos protestem e achem que seja blasfêmia.


Jesus foi liberal porque em nome de Deus, interpretou e mediu Moisés, a escritura e a dogmática a partir do amor e com isso permitiu aos piedosos de permanecerem humanos e até razoáveis, relativizando preceitos caducos da lei.

O quanto isso é verdade, basta recordar o seguinte episódio que releva à maravilha a liberalidade e o horizonte aberto de Jesus:

“Disse-lhe João: Mestre, vimos um que em teu nome expulsa os demônios e que não está conosco; e nós lho proibimos porque não está conosco. Disse-lhe Jesus: Não lho proibais, pois ninguém que faça um milagre em meu nome falará depois mal de mim. Quem não está contra nós está conosco”

Um simples texto nos mostra que Jesus não era sectário como muitos dos seus discípulos ao longo da história.
Jesus veio para ser e viver o Cristo e não para pregar o Cristo, ou anunciar-se a si mesmo.
Por isso ele sente realizada sua missão lá onde vê homens que o seguem e fazem, embora sem referência explícita ao seu nome, aquilo que ele quis e proclamou.

O que Ele quis está claro: A felicidade do homem só pode ser encontrada se ele se abrir a Deus, e ao próximo.
Um dos pecados mais combatidos por Jesus, e, entretanto, talvez seja o mais praticado ao longo da história como na atualidade, é o pecado contra o espírito humanitário. É o pecado da exclusão, do sectarismo, do partidarismo, do individualismo e coisas semelhantes.

Na parábola dos cristãos anônimos de Mateus 25: 31 ao 46, o Juiz não inquirirá ninguém pela observação dos cânones da dogmática, nem se na vida de cada homem houve ou não uma referência explícita ao mistério de Cristo. Ele perguntará, em termos simples, se fomos altruístas.

É exatamente isso que Cristo exige quando nos propõe um ideal como o do sermão da montanha.
Aqui não cabe falar mais em leis, mas no amor que supera todas as leis.
Quem negou isso negou a causa de Cristo, mesmo aquele que tem sempre Cristo em seus lábios e oficialmente se confessa por Ele.


Bibliografia: Jesus Cristo Libertador, Boff, Leonardo

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Silogismos ilógicos




Aristóteles elaborou uma teoria do raciocínio como inferência. 

Inferir é obter uma proposição (expressão verbal susceptível de ser declarado verdadeiro ou não) como conclusão de uma outra ou de várias outras proposições que antecedem a sua explicação ou sua causa.

A teoria aristotélica do silogismo é o coração da lógica, pois é a teoria das demonstrações ou das provas, da qual depende o pensamento científico e filosófico. 

Um silogismo é constituído de três proposições. A primeira é chamada de premissa maior, a segunda de premissa menor e a terceira de conclusão. O exemplo mais famoso do silogismo é:

 Todos os homens são mortais. Primeira premissa.
 Sócrates é homem. Segunda premissa.
 Sócrates é mortal. Conclusão.

Um silogismo não é nem verdadeiro nem falso: ele é válido ou inválido, dependendo se a conclusão deriva das premissas. Apenas declarações podem ser verdadeiras ou falsas. 
O que a lógica mede é a relação entre declarações e proposições. O que o silogismo acima prova por dedução é: se todos os homens são mortais e se Sócrates é um homem, então indubitavelmente Sócrates e mortal.

Agora, isso prova que Sócrates é mortal? Não necessariamente. Essa conclusão é verdadeira apenas se as premissas do silogismo são verdadeiras. Por exemplo: como sabemos que todos os seres humanos são mortais? Essa premissa universal é baseada na indução. Sabemos que todo ser humano nascido antes de 1850 já morreu, no entanto, imagine que a atual geração de pessoas vivas seja a primeira de pessoas imortais? Apesar de isso ser altamente improvável, teoricamente não é impossível. Acrescente-se a isso que o número de pessoas vivas hoje é provavelmente maior do que o numero de todas as pessoas que nasceram antes de 1850, e veremos que depois de estudado pelo método indutivo menos da metade de todas as pessoas, lançamo-nos a uma conclusão sobre todas elas. Ou seja, não temos certeza que todos os homens são mortais. 

Tá bom! Imagine que um holocausto nuclear matou todas as pessoas da terra menos você. Isso faria você não ter dúvidas que todas as pessoas são mortais? Não com certeza absoluta! Você pode ser aquela exceção que nega a verdade universal.

O que dizer da segunda premissa, de que Sócrates é um homem? E se ele for um mero fruto da imaginação de Platão. Talvez ele seja um robô ou um alienígena do espaço. Essas possibilidades teóricas podem ser ofensivas ou grotescas ao extremo, mas não deixam de ser possibilidades filosóficas, por mais remotas e improváveis que sejam. Nesse sentido, vemos que mesmo com a aplicação de silogismos jamais se chegará à certeza formal e absoluta.  

Descartes em seu discurso, onde ele apresenta algumas regras que devem ser obedecidas na busca da verdade coloca em primeiro lugar: nunca aceitar como verdadeira qualquer coisa que não seja reconhecida como verdade sem sombra de dúvida.

Muitos confirmam com uma certeza categórica, absoluta conceitos passíveis de serem relativizados. 

Foi a propósito de entrar em dois assuntos que envolvem este método que coloquei este breve resumo dessa área da filosofia ou desse elemento da lógica que é o silogismo.

O primeiro é em função de uma discussão entre duas instituições religiosas que possuem confissões antagônicas. Uma católica outra protestante. A primeira atribui a Maria um status que a outra rejeita. 

Tudo gira em torno do filme que tem no seu título a afirmação “Maria, mãe de Deus”, e trás no seu elenco o Padre Marcelo Rossi. A afirmação católica de atribuir a Maria esta prerrogativa se dá através de um silogismo:

- Maria é mãe de Jesus
- Jesus é Deus
- Logo, Maria é mãe de Deus

No campo da lógica este é um silogismo válido mas segundo a convicção protestante esbarra no fato das escrituras inferir que Jesus tinha também seu lado Humano. Portanto é um caso onde conclui-se que as premissas são verdadeiras, contudo a conclusão é falsa.                                                                                                                              

Outro objeto de discussão é em relação à inerrância da Bíblia, quando tenta-se comprovar este axioma através de um silogismo, da seguinte forma:

- A Bíblia é a palavra de Deus
- Deus não pode errar
- Logo, a Bíblia está isenta de erros.

Como já foi dito, as premissas devem ser verdadeiras. O seja, não podem ser possíveis ou prováveis, e reconhecidamente tanto a primeira como a segunda premissa estão no campo da possibilidade, ainda que um axioma pode vir a ser uma premissa válida.

O silogismo, para permitir a chegada a uma conclusão verdadeira ou a realização de uma inferência correta, deve obedecer a um conjunto de regras complexas sobre as quais não entraremos em detalhes nesta oportunidade. Mas a idéia geral da inferência silogística deve ser:
- A é verdade de B
- B é verdade de A
- Logo, A é verdade de C.

É o que definitivamente não acontece neste silogismo acerca da Bíblia.

Um abraço. Donizete.