No
palco pensamos que Deus está a nossa
disposição para atender os nossos caprichos.
No
palco corro o risco de pensar que sou o astro
(ainda que eu diga o contrário) e esqueça que o único digno de ser reverenciado
é o Eterno Deus.
No
palco sou levado a crer que as bênçãos de Deus
só serão estendidas ao outro através da minha atuação como mediador.
No
palco corro o risco de vangloriar-me, por
conceber a idéia de que o senhor me abençoou em detrimento daquele que não me ajudou
no momento em que chorava.
No
palco sou levado a crer que o meu triunfo
sobre as adversidades foi justo e merecido, e venha a classificar como indignos
os mortos e feridos que não tiveram a mesma sorte.
No
palco pode ser que eu me esqueça do evangelho
de cruz, de abnegação, e me enverede pelo caminho dum evangelho triunfalista
que tem no bem estar do homem a sua centralidade.
No
palco pode ser que, ao invés de falar do amor
irrestrito de Deus que a tudo transcende, acabe enfatizando um disangelho de
retribuições, de terrorismo, onde Deus, ao melhor estilo talibã, castiga
aqueles que não foram capazes de satisfazer os seus caprichos.
No
palco sou levado a crer que Deus, como
expressão exata do papai Noel, me presenteia somente no caso de ter-me
comportado bem, e esqueça que nada do que eu fizer o fará me amar mais e nada
do que eu deixar de fazer o fará me amar menos.
No
palco posso ser possuído pelo pensamento
insano, de achar que tenho o direito de ter inimigos, e que, um dia, o “meu
Deus” me dará ao luxo de vê-los rastejando para pedir-me perdão. Ou então o
Senhor os transformará em tapetes onde limpe os meus pés.
No
palco pode ser que me sinta num grau tão
elevado que não perceba as ambigüidades dentro do meu ser, e numa leitura equivocada
das situações conclua que Deus me deve alguma coisa, e por isso tenho o direito
de exigir dEle a restituição.
No
palco corro o risco de pensar que todos
aqueles que ainda estão na platéia, é porque não atingiram o mesmo nível de fidelidade
que alcancei, logo, estão mesmo vivendo na concretude à margem da graça de Deus
por questões de mérito.
No
palco, vou estar almejando os aplausos e
elogios. Sempre buscando a condição de celebridade, a figura central das salas
Vips, onde confraternize com a cúpula, e não chore por aqueles que são
friamente excluídos por não gozarem da mesma importância.
No
palco posso ser tomado pelo sentimento de que
existem patamares ainda mais altos a serem alcançados, e a posição atual é
apenas o trampolim para uma carreira de maior sucesso, e negligencie a verdade
de que muitos na ambição de serem ricos e detentores de poder, caem em muitas
ciladas, e os cuidados da vida e a sedução das riquezas venha sufocar a semente
do evangelho no meu coração.
No
palco pode ser que, na tentativa de tornar-me
cada dia mais popular, mais admirado por todos, queira agir apenas com base no
politicamente correto, e mascare ou suprima as exigências do evangelho no
tocante às atitudes humanas.
No
palco pode acontecer de
sobrecarregar-me de tal maneira que eu não tenha mais tempo de reciclar meus
conhecimentos e me aprofundar mais no estudo da teologia, e fique apenas na
superficialidade dos textos bíblicos.
Não
quero estar no palco, porque pode ser que na tentativa de fazer manutenção do meu
status, venha a negligenciar valores absolutos como dignidade, ética, e o padrão
moral exigido por uma sociedade sadia.
No
palco estaria muito preocupado com minha
performance em oratória e esqueceria que o mais importante é o crescimento do
reino de Deus e o enlevo espiritual dos seus servos.
No
palco posso ser tentado a proferir frases de
efeitos como “o melhor de Deus está por vir” e não considerar que o melhor que
poderia nos acontecer foi a vinda do Filho de Deus para nos salvar, e tenha o
foco desviado para a esfera da conquista material.
No
palco pode ser que na
tentativa de criar um clima favorável, venha a proferir jargões decorados como
por exemplo: “você não vai morrer enquanto o senhor não cumprir as promessas
que te fez” ou: “Hoje seu milagre vai chegar”, sem refletir sobre a
possibilidade disso não acontecer, e a confiança depositada em Deus venha ser
comprometida.
O
palco, no qual eu me refiro é uma alegoria que
representa o indivíduo que quer estar em evidência a todo custo. Eu prefiro
estar na platéia em condição de igualdade com todos. Sendo, de igual modo, todos, participantes da graça e misericórdia de Deus. Ciente que o único digno
de estar em posição de destaque é o Eterno Deus.
O palco é o lugar da performaticidade onde representamos o que não somos, e somos o que não representamos... Contraditório não?!
ResponderExcluirNa platéia não temos opção de representação, a não ser para aqueles que não tem compromisso com sua própria consciência...
O palco é sedutor, estar na platéia é desafiador...
Um abraço Caro Apóstata Assembereano!
Entrei aqui logo após haver discutido alguns pontos citados por você neste ensaio, com uma amiga. Entendi que não adianta você ter um grau acadêmico, mesmo sendo em ciências humanas, parece que certas coisas só se percebe com os olhos do espírito e este não se educa com livros.
ResponderExcluirSe temos compromisso com a nossa própria consciência, podemos até mesmo ser hipócritas muitas vezes, mas isto vai doer, vai nos agredir e não conseguiremos continuar sem concertar nosso erro.
Eu tenho lutado muito por transparência e como é cansativo, viver uma farsa. Sempre agradeço a Deus quando em momentos mais difíceis eu consigo ser verdadeira e pedir perdão quando necessário.
Muitooooooooooooo bom seu ensaio. Beijão e saúde para a sua esposa.
"No palco pode ser que, ao invés de falar do amor irrestrito de Deus que a tudo transcende, acabe enfatizando um disangelho de retribuições, de terrorismo, onde Deus, ao melhor estilo talibã, castiga aqueles que não foram capazes de satisfazer os seus caprichos."
ResponderExcluirOuvi uma velhinha e uma jovem amarguradas porque Deus não responde mudando a dramática situação delas. Ambas me disseram que não mereciam o que estavam sofrendo.
Para mim foi mais fácil entender a velhinha rsrs
Sim meu amigo Kilin,
ResponderExcluirAinda que seja perfeitamente possível, a bordo dessa alegoria, afirmar que existe quem esteja na platéia se achando como se estivesse no palco e visse e versa!
Abraços.
Obrigado Gui,
ResponderExcluirQue bom que você gostou. O texto saiu um pouco do meu estilo. Mas mandei ver! rsrs
Abração!
Gostei do artigo, Doni.
ResponderExcluirMas aqui fica uma reflexão sobre as peças que o Teatro Universal do Reino de Deus está sempre reprisando:
Nesse rico Teatro, Palco e Púlpito têm em comum muita coisa: Local elevado e ricamente ornamentado, mais perto do Céu. Faz lembrar um trono com a maioria dos súditos a aplaudir os seus ídolos ou artistas em suas peripécias inspirituais.(rsrs)
Doni,
ResponderExcluirmandou muito bem na metáfora do palco como o lugar onde o ator/artista/cristão vai buscar o aplauso e o reconhecimento. Literalmente falando, claro, nada tenho contra o aplauso ao artista; mas quando se trata da relação do homem com Deus a coisa fica muito estranha mesmo. O cristianismo bíblico faliu em nossas terras; o que temos hoje é uma outra coisa pois a mensagem que sai dos palcos/púlpitos já não são aquelas que saíram da boca de Jesus. Mas eu fico pensando...realmente é possível viver hoje o evangelho bíblico? O evangelho não tem se adaptado ao longo da história às mudanças na sociedade? Esse é um problema que tenho pensando nos últimos tempos mas ainda não cheguei a nenhuma conclusão.
Doni, e como vai sua esposa, ela melhorou? espero que sim.
ResponderExcluirDoni, gostei muito de ler você em um gênero mais reflexivo, subjetivo, muito bom!
ResponderExcluirEu concordo com vc, A nossa relação com Deus é tão íntima e deve ser a coisa mais verdadeira em nós, afinal ele nos conhece totalmente, com Deus não há máscaras, sinceros não podemos representar, nosso lugar fatalmente é a platéia, mas nos relacionamos com Deus enquanto nos relacionamos com o outro e é nesse relacionamento que visamos aparecer e parecer mais do que somos, mas aí caímos no que disse o Frank, descompromisso com a nossa consciência com o nosso eu e aí fica bem perigoso como disse o Levi na confraria.
Meu querido, parabéns pelo texto. Um abraço a todos os seus aí em Campinas. Aqui no Rio chove e parece que será assim durante o feriado prolongado. Fica com Deus!
Levi, Edu e Mari,
ResponderExcluirPalco, púlpito, plataforma, altar, palanque, etc... não importa o nome: são itens indispensáveis na construção de um templo, auditórios, teatros e outros locais de apresentação artística e afins. Mas todos com a finalidade comum de colocar em evidência as personalidades que fazem o uso deles.
Sem negar a importância física e arquitetônica desses itens, existe algumas curiosidades em torno da origem deles, pelo menos no que diz respeito à sua construção nos lugares de culto cristão, visto que nas sinagogas judaicas todos ficavam no mesmo nível.
O Ed René Kivits disse que o primeiro templo cristão começou a ser construído exatamente por Constantino, sob influência de sua mãe Helena, em 327 dC, às custas de recursos públicos, e sua arquitetura seguia o modelo das basílicas, as sedes governamentais da Grécia e, posteriormente, de Roma, e dos templos pagãos da Síria? (pois o templo é uma característica iminentemente pagã)
E que as basílicas cristãs foram construídas com uma plataforma elevada acima do nível da congregação e que no centro da plataforma figurava o altar, e à sua frente a cadeira do Bispo, que era chamada de cátedra. E o termo ex cathedra significa "desde o trono", numa alusão ao trono do juiz romano, e, por conseguinte, era o lugar mais privilegiado e honroso do templo, onde o Bispo pregava sentado, na ex cathedra, numa posição em que o sol resplandecia em sua face enquanto ele falava à congregação.
Qualquer semelhança entre o especto físico e o subjetivo proposto na metáfora não é mera coincidência.
É isso mesmo, Doni, sem dúvida, o lugar mais alto nos templos cristãos que começaram a ser construídos por Constantino, mandam uma mensagem clara: quem está ali sentado é digno de honra e está num "nível superior" - ou seja - expressa o oposto da mensagem de Jesus aos seus discípulos que deseja que todos fossem um.
ResponderExcluirE sobre a questão das mudanças na prática cristã durante os séculos? seria possível ser diferente? Taí uma boa tese para você desenvolver...rss
Edu,
ResponderExcluirAs experiências ou práticas de vida cristã sofrem mudanças de paradigmas sistematicamente. O que nós atualmente conscientemente chamamos de crise, é na verdade um ajuste ou adaptação da igreja ao padrão estabelecido pela sociedade. Não temos como ignorar, a cosmovisão cristã evolui com a secular, dando inclusive ares de secularidade a própria igreja. Mas é salutar a mesma.
A crise se evidencia no início da mudança. Pois cada uma delas constitui o fim de um mundo e o início de um outro. E se tratando de igreja, a resistência é muito grande por parte do conservadorismo.
Não é por acaso que Presbiterianos e alguns Batistas evocam Westminster para tentar pelo menos teoricamente e liturgicamente, manter a tradição de uma teologia reformada, que de forma cambaleante, tenta manter-se em pé. O que já é um ato heroico para quem sobreviveu ao iluminismo e as implicações teológicas que as guerras mundiais do século XX produziram.
O falecido Professor sul africano David Bosch, na sua monumental obra "Missão transformadora" Faz uma ampla abordagem, no decorrer de quase 700 páginas, as várias mudanças de paradigmas enfrentada pela igreja.
Este livro é indispensável à todo estudante de teologia. Indico também para você, se é que ainda não o possui.
No palco pode ser que, ao invés de falar do amor irrestrito de Deus que a tudo transcende, acabe enfatizando um disangelho de retribuições, de terrorismo, onde Deus, ao melhor estilo talibã, castiga aqueles que não foram capazes de satisfazer os seus caprichos.
ResponderExcluirNo palco sou levado a crer que Deus, como expressão exata do papai Noel, me presenteia somente no caso de ter-me comportado bem, e esqueça que nada do que eu fizer o fará me amar mais e nada do que eu deixar de fazer o fará me amar menos.
Doni gostei muito deste texto já me senti assim já senti nojo de pensar assim e quando menos percebo estou eu pensando novamente que raiva kkkkkkkkkkkk Muito bom mesmo!
É complicado né Gilberto! A mínima "pisada na bola" nos traz aquela sensação de desconforto, juntamente com a expectativa de castigo por parte de Deus!
ResponderExcluirEsta é a mensagem gravada em nosso subconsciente por causa das muitas mensagens com este teor.
Obrigado pela visita amigo!
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