terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ostentação, socialite gospel


Deus abençoa financeiramente os fiéis, sou o mais próspero dentre todos na comunidade. Logo, minha prosperidade material é prova inconteste da minha fidelidade. É com esta lógica perversa que muitos líderes eclesiásticos ostentam suas riquezas sem ter a mínima discrição e consideração pelos seus subordinados que em muitos casos são os responsáveis diretos pelo seu sucesso ministerial e financeiro. E estes por sua vez não ousam questionar, pois segundo sua cosmovisão, estas aquisições são um sinal indiscutível da aprovação divina no seu ministério. Estão vivendo o que pregam, dizem! E até os estabelecem como o exemplo a serem seguidos, sem levar em conta que a possibilidade de enriquecer somente por servir a Deus é igual  à de um líder de uma grande organização religiosa ser pobre e carente de recursos. Isto é, nenhuma!  Há alguns anos Ronaldo o fenômeno desfilou palas ruas do Rio de janeiro com uma Ferrari avaliada em mais de um milhão de reais. Porém o que deixou boa parte da mídia perplexa, e por isso a repercussão teve conotação negativa, foi o fato de o jogador ter dito que no Brasil é mais divertido ter uma Ferrari, pois foge do comum. No Brasil o status é diferente do que na Europa onde ser rico faz parte do trivial. Na época esta afirmação foi considerada uma afronta à grande maioria dos brasileiros que não tem direito a nem sequer o mínimo de dignidade no que tange aos seus meios de locomoção.
E não é por acaso que os magnatas do meio evangélico, não satisfeitos com o anonimato em meio a tantas celebridades, e com o pretexto de possuir um status de líder moderno e revolucionário, com a clara pretensão de mostrar um estereotipo modernista, têm trabalhado para que, nos mesmos moldes da revista CARAS, encontre um meio de estampar suas proezas no que se refere ao poder aquisitivo e o estilo de vida glamouroso que possuem. Isto é, para eles o padrão de humildade e desprendimento nos quais os obreiros do passado pautavam seus ministérios são ultrapassados e falidos. Transmite a idéia de fracasso. Por isso pousam com toda pose no afã de ostentar suas riquezas e seu poder. A mensagem central que estes sanguessugas do dinheiro alheio tentam passar a sociedade, é de que não adianta apenas pregar o evangelho. É preciso um púlpito acarpetado com tapete vermelho que comunica a idéia de requinte e glamour. Uma cadeira centrada com dimensões e estofamento diferente para não ser confundido com qualquer um. Precisa ter o melhor carro, aliás, como prova da sua excentricidade ser um colecionador, de preferência de marcas importadas. É preciso apresentar-se também como tendo inúmeras alianças políticas, para deixar claro aos seus subalternos que sua autoridade transcende os limites eclesiásticos, e que, para ser um líder respeitado, no melhor modelo maquiavélico, algumas virtudes como humildade, mansidão e amor precisam ser ignorados. E numa clara demonstração de terrorismo psicológico apontar que uma decisão pastoral tem valor convencionalmente celestial, e que qualquer divergência de idéias será tratada como rebelião e quando identificada terá como conseqüência a ruptura do indivíduo com o ministério. E estes, dotados daquele temor que levou Davi a não cometer nenhum ato contra Saul, pois este último seria o representante legítimo de Deus, consideram um ultraje um simples ponderar acerca das resoluções tomadas unilateralmente pelo seu líder maior. Há! é preciso também ter um jatinho particular para melhor ostentar a posição de ungido do Senhor. Agora, cada um faz o que quer da sua imagem. Acredito até que há profissionais assessorando suas carreiras. E também não cabe a mim julgar precipitadamente o crescimento “palociano” de seus bens. A indignação ocorre pelo fato de, enquanto o líder máximo revela de forma tão  provocativa (estilo Ronaldo) seu poder aquisitivo, a maioria absoluta daqueles que estão sujeitos a suas ordens  come o ”pão de Ezequiel” para, por amor fazer a obra de Deus.

Até a próxima. Donizete.  

8 comentários:

  1. Tremendo seu texto Donizete, muito bom, e não ouse pensar pois será taxado de rebelde, estes lideres estão enriquecendo com consentimento de suas próprias ovelhas Donizete. Muitos estão lá barganhando também pois acreditam neste evangelho fantasioso que só eles se dão bem. Sabe meu amigo, meu marido costuma dizer que só se decepciona quem entra lá pensando em se dar bem como estes pilantras. Pois como estes tem muitos, Lobos como(pastores) e ovelhas. Paz amei seu artigo bem coerente e inteligente. Vou te colocar nos meus favoritos!

    ResponderExcluir
  2. Donizete,

    Estou retribuindo, com prazer, sua visita à minha humilde sala.

    Seu texto não aparenta ser de um estudioso de teologia mas entendo sua revolta. Nós elegemos nossos representantes na política e esperamos que se eleito, nos defenda ou ajude politicamente. Assim como na relogiosidade ou crença, elegemos nosso representante àquele que detém a concessão do Espírito Santo para ser nosso representante junto Deus e nos ajude espiritualmente, não exigimos legitimidade destas concessóes.
    A política cristã não é celestial, é infernal. O Diabo não tem concessionária, você não compra o direito de ir para o inferno. Compra o de ir para o céu, por quê?

    ResponderExcluir
  3. Altamirando, é um prazer tê-lo por aqui.
    De fato a proposta inicial deste espaço é abrir diálogo na área de teologia. porém com a flexibilidade para tratar de assuntos correlatos a ela. Na realidade a política secular nos confere a autonomia de escolhermos nossos representantes nas repartições públicas. Entretanto, na igreja, no melhor estilo ditatorial e provinciano, não temos direito a qualquer participação democrática. De fato este modelo está longe de ser considerado celestial.

    Volte sempre que poder.

    ResponderExcluir
  4. Donizete, gostei muito da sua posição em relação ao meu post do Pondé lá na Rô. Obrigado pelo comentário. Concordo com tuas palavras.

    Abraços sempre afetuosos.

    ResponderExcluir
  5. oi, donizete, beleza? vim conhecer teu espaço.

    eu não sou contra ninguém querer prosperar. eu quero. mas quando pessoas que se dizem espirituais põem o seu status naquilo que possui, alguma coisa está bem errada.

    isso sem falar que enriquecer às custas dos dízimos dos incautos é mole; basta ter um pouquinho de carisma e convencer o povo que você está ali por mandato divino e que os dízimos são capazes de comprar a prosperidade divina.

    o culpado disso é malaquias....kkkkkkkkkkkkkkk (pimentinha final)

    abraços

    ResponderExcluir
  6. Oi, Donizete!
    Estou retribuindo tua visita ao meu blog.
    amei o teu texto e especialmente a descrição do teu blog "Para quem não acredita que o mesmo Deus que nos deu inteligencia, razão e bom senso nos proíba de usá-los.". Encontrei mais um espaço!
    Um abraço e fica com Deus.

    ResponderExcluir
  7. Donizete, eu não considero julgamento. Estes mercenários da fé estão dentro do contexto bíblico, daqueles que farão comércio dos menos avisados.

    O que me revolta mais ainda, são aqueles que os enriquece, na esperança de que eles sejam o pedágio para alcançarem suas "bençãos".

    Abraço amado.

    ResponderExcluir