quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Homo Philosophicus




EL, EL, EL, GABRIEL (Adriana Calcanhoto)


Porque o fogo queima? Porque a lua é branca?
Porque a terra roda? Porque deitar agora?
Porque as cobras matam? Porque o vidro embaça?
Porque você se pinta? Porque o tempo passa?
Porque que a gente espirra? Porque as unhas crescem?
Porque o sangue corre? Porque que a gente morre?
Do que é feita a nuvem? Do que é feita a neve?
Como é que se escreve Réveillon ?

A filosofia está em todos os lugares, porque cada um de nós, ao longo da vida, se confronta com perguntas filosóficas. Sejam elas das mais simples até as mais complexas. As perguntas filosóficas são compainhas constantes. Do berçário até à clínica de repouso para idosos, nunca paramos de pensar e falar sobre questões filosóficas. Pode haver dúvidas sobre o quanto os seres humanos são realmente sábios, mas é indiscutível o quanto somos filosóficos. Nossa espécie deveria ser chamada de “homo philosophicus”.

O fato de essa onipresença da filosofia não ser de conhecimento comum é em si próprio uma manifestação do seu paradoxo. A maioria das pessoas não percebem que muitas das perguntas sobre as quais vem refletindo sozinha ou na compainha de amigos estão na própria raiz da filosofia.

À exemplo do Gabriel, quando você era pequeno, torturava os adultos assim como você se sente torturado diante das mais variadas perguntas que as crianças lhe fazem.

Quem nunca se irritou diante da insaciável curiosidade e sede de conhecimento que elas possuem, demonstrados nos seus inumeráveis porquês? Quando elas entram na fase de descobrir, querem saber a fundo a utilidade prática de tudo que lhe está sendo ensinado e dos objetos à sua volta. Geralmente elas querem saber a causa de um evento que elas presenciam. Logo que a causa daquele evento lhe é explicada ela quer saber o que causava aquela causa. Via de regra os pais se estressam antes que a curiosidade da criança em relação à cadeia de causas se esgote. Contudo, quando pesquisadas com tenacidade e criatividade suficientes, essas perguntas comuns e simples crescem e se tornam grandes sistemas filosóficos. Aliás são assim que eles nascem.

Sócrates utilizava-se deste método na sua busca de conhecimento. Com a premissa de que nada sabia, fazia uma série de perguntas ao seu interlocutor, e mediante a perplexidade a que as respostas iam dando origem, o levava a uma depuração intelectual, e consequentemente a descoberta da verdade em questão.

Ter uma mente questionadora é uma virtude inata do ser humano. A reflexão é uma das faces maravilhosas da nossa tradição. Nosso principal estímulo é de que a filosofia não é apenas para pessoas brilhantes e de outro mundo, mas simplesmente para as pessoas que pensam, de almas curiosas.

Perguntaram, certa vez, a um filósofo: “Para que filosofia?”. E ele respondeu: “para não darmos nossa aceitação imediata às coisas, sem maiores considerações”.

3 comentários:

  1. As perguntas nunca cessam e se não se pode dedicar tempo as pesquisas a alma fica inquieta demais,é por isso que muitos deixam de pensar, questionar, é que é preciso ter expediente para ir atrás das respostas.

    Doni, seria legal vc criar uma página no face para postar suas reflexões, por que não faz isso? Seria muito bom poder ler e compartilhar essas coisas com os outros sem necessariamente expor seu perfil. Pense nisso! Vi que a Anja fez essa sugestão e penso que seria legal e mais dinâmico que o blog.
    Abração. fica com Deus.

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  2. Essa música da Calcanhoto é pura filosofia infantil!! As crianças são grandes filósofas. Tudo no mundo as encanta. Depois elas crescem e deixam de se encantar. Espero com satisfação a época dos porquês do meu filho pois vou ter um grande prazer em filosofar com ele.

    abraços

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  3. Creio que Deus nos criou como seres pensantes e daí a importância de desenvolvermos esta capacidade de pensar/refletir, não sendo aconselhável alguém cometer um suicídio intelectual. Para pensar não é preciso ter diplomas e títulos. Basta querer. Aliás, tenho pra mim que muitas instituições de ensino, por causa de seus respectivos sistemas e cobranças, acabam desestimulando o pensamento bitolando os alunos. Espero que algum dia a escola realmente incentive o aluno a pensar, libertando o estudante do velho e viciado sistema de recompensas e punições. Abraços.

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