terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Silogismos ilógicos




Aristóteles elaborou uma teoria do raciocínio como inferência. 

Inferir é obter uma proposição (expressão verbal susceptível de ser declarado verdadeiro ou não) como conclusão de uma outra ou de várias outras proposições que antecedem a sua explicação ou sua causa.

A teoria aristotélica do silogismo é o coração da lógica, pois é a teoria das demonstrações ou das provas, da qual depende o pensamento científico e filosófico. 

Um silogismo é constituído de três proposições. A primeira é chamada de premissa maior, a segunda de premissa menor e a terceira de conclusão. O exemplo mais famoso do silogismo é:

 Todos os homens são mortais. Primeira premissa.
 Sócrates é homem. Segunda premissa.
 Sócrates é mortal. Conclusão.

Um silogismo não é nem verdadeiro nem falso: ele é válido ou inválido, dependendo se a conclusão deriva das premissas. Apenas declarações podem ser verdadeiras ou falsas. 
O que a lógica mede é a relação entre declarações e proposições. O que o silogismo acima prova por dedução é: se todos os homens são mortais e se Sócrates é um homem, então indubitavelmente Sócrates e mortal.

Agora, isso prova que Sócrates é mortal? Não necessariamente. Essa conclusão é verdadeira apenas se as premissas do silogismo são verdadeiras. Por exemplo: como sabemos que todos os seres humanos são mortais? Essa premissa universal é baseada na indução. Sabemos que todo ser humano nascido antes de 1850 já morreu, no entanto, imagine que a atual geração de pessoas vivas seja a primeira de pessoas imortais? Apesar de isso ser altamente improvável, teoricamente não é impossível. Acrescente-se a isso que o número de pessoas vivas hoje é provavelmente maior do que o numero de todas as pessoas que nasceram antes de 1850, e veremos que depois de estudado pelo método indutivo menos da metade de todas as pessoas, lançamo-nos a uma conclusão sobre todas elas. Ou seja, não temos certeza que todos os homens são mortais. 

Tá bom! Imagine que um holocausto nuclear matou todas as pessoas da terra menos você. Isso faria você não ter dúvidas que todas as pessoas são mortais? Não com certeza absoluta! Você pode ser aquela exceção que nega a verdade universal.

O que dizer da segunda premissa, de que Sócrates é um homem? E se ele for um mero fruto da imaginação de Platão. Talvez ele seja um robô ou um alienígena do espaço. Essas possibilidades teóricas podem ser ofensivas ou grotescas ao extremo, mas não deixam de ser possibilidades filosóficas, por mais remotas e improváveis que sejam. Nesse sentido, vemos que mesmo com a aplicação de silogismos jamais se chegará à certeza formal e absoluta.  

Descartes em seu discurso, onde ele apresenta algumas regras que devem ser obedecidas na busca da verdade coloca em primeiro lugar: nunca aceitar como verdadeira qualquer coisa que não seja reconhecida como verdade sem sombra de dúvida.

Muitos confirmam com uma certeza categórica, absoluta conceitos passíveis de serem relativizados. 

Foi a propósito de entrar em dois assuntos que envolvem este método que coloquei este breve resumo dessa área da filosofia ou desse elemento da lógica que é o silogismo.

O primeiro é em função de uma discussão entre duas instituições religiosas que possuem confissões antagônicas. Uma católica outra protestante. A primeira atribui a Maria um status que a outra rejeita. 

Tudo gira em torno do filme que tem no seu título a afirmação “Maria, mãe de Deus”, e trás no seu elenco o Padre Marcelo Rossi. A afirmação católica de atribuir a Maria esta prerrogativa se dá através de um silogismo:

- Maria é mãe de Jesus
- Jesus é Deus
- Logo, Maria é mãe de Deus

No campo da lógica este é um silogismo válido mas segundo a convicção protestante esbarra no fato das escrituras inferir que Jesus tinha também seu lado Humano. Portanto é um caso onde conclui-se que as premissas são verdadeiras, contudo a conclusão é falsa.                                                                                                                              

Outro objeto de discussão é em relação à inerrância da Bíblia, quando tenta-se comprovar este axioma através de um silogismo, da seguinte forma:

- A Bíblia é a palavra de Deus
- Deus não pode errar
- Logo, a Bíblia está isenta de erros.

Como já foi dito, as premissas devem ser verdadeiras. O seja, não podem ser possíveis ou prováveis, e reconhecidamente tanto a primeira como a segunda premissa estão no campo da possibilidade, ainda que um axioma pode vir a ser uma premissa válida.

O silogismo, para permitir a chegada a uma conclusão verdadeira ou a realização de uma inferência correta, deve obedecer a um conjunto de regras complexas sobre as quais não entraremos em detalhes nesta oportunidade. Mas a idéia geral da inferência silogística deve ser:
- A é verdade de B
- B é verdade de A
- Logo, A é verdade de C.

É o que definitivamente não acontece neste silogismo acerca da Bíblia.

Um abraço. Donizete.  

7 comentários:

  1. Donizete, lembrei de um professor de filosofia que eu tive na faculdade. Ele propunha o sofisma:
    Deus pode tudo?
    Ele pode criar uma pedra tão grande que ele (Deus) não possa mover?
    Se ele não pode, ele não pode tudo.

    O Sofisma é mais que uma conexão errada de idéias, né? Pode-se afirmar que há uma má fé na geração dessas afirmações ou elas acontecem simplesmente por que não analisamos corretamente. Na questão do professor, as perguntas são todas corretas. Por que gera uma resposta sem sentido?
    Eu gostava das aulas de filosofia. Esse professor subia numa longa mesa e falava do vir a ser de Heráclito. Meus neurônios ficavam com sono dada a certa preguiça de pensar. Mas era legal.

    Maria é mãe de Deus encarnado Jesus. Os católicos estão certos! Os evangélicos tb não acreditam que Jesus é Deus, então ela é mãe de Deus sim. Não do Deus Eterno, mas do Deus que se propõe nascer filho de mulher e a morrer pela mão dos homens. Ou os homens não mataram Deus?

    Abraços. Muito feliz com teu retorno.
    Fica com Deus.

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  2. Mari,

    A onipotência de um ser não pode ser medido apenas pelo que ele é capaz de fazer. A onipotência consiste exatamente em não ter que fazer tudo o que tem poder para fazer. No caso de Deus, sua essência é o amor. E o amor relativiza o seu poder.

    Na tradição católica, maria não teve um papel de discrição conforme relatados nos evangelhos. por isso essa afirmação de Maria mãe de Deus, traz outras implicações que o protestantismo se recusa a aceitar.

    Em filosofia, Heráclito é meu ídolo Mariani!
    Foi ele quem disse: "nada é permanente, a não ser a mudança."

    Abraços. Fica com Deus!

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  3. E o meu filósofo preferido Doni, é o renomado Raul Santos Seixas:

    Prefiro ser
    Essa metamorfose ambulante
    Eu prefiro ser
    Essa metamorfose ambulante

    Do que ter aquela velha opinião
    Formada sobre tudo
    Do que ter aquela velha opinião
    Formada sobre tudo

    Eu quero dizer
    Agora, o oposto do que eu disse antes
    Eu prefiro ser
    Essa metamorfose ambulante

    Do que ter aquela velha opinião
    Formada sobre tudo
    Do que ter aquela velha opinião
    Formada sobre tudo

    Sobre o que é o amor
    Sobre o que eu nem sei quem sou

    Se hoje eu sou estrela
    Amanhã já se apagou
    Se hoje eu te odeio
    Amanhã lhe tenho amor

    Lhe tenho amor
    Lhe tenho horror
    Lhe faço amor
    Eu sou um ator

    É chato chegar
    A um objetivo num instante
    Eu quero viver
    Nessa metamorfose ambulante

    Do que ter aquela velha opinião
    Formada sobre tudo
    Do que ter aquela velha opinião
    Formada sobre tudo

    Sobre o que é o amor
    Sobre o que eu nem sei quem sou

    Se hoje eu sou estrela
    Amanhã já se apagou
    Se hoje eu te odeio
    Amanhã lhe tenho amor

    Lhe tenho amor
    Lhe tenho horror
    Lhe faço amor
    Eu sou um ator

    Eu vou lhe desdizer
    Aquilo tudo que eu lhe disse antes
    Eu prefiro ser
    Essa metamorfose ambulante

    Do que ter aquela velha opinião
    Formada sobre tudo
    Do que ter aquela velha opinião
    Formada sobre tudo

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  4. Franklin,

    Para Heráclito, o mundo e a vida é um constante vir a ser (devir)

    Existe muitas canções inspiradas na filosofia de Heráclito. Lulu Santos que o diga.
    O poeta Raul concorda com Heráclito: Tudo flui continuamente!

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  5. Doni,

    ótima aula de lógica. mas logicamente, quem quer tratar afirmações teológicas com lógica, cairá numa armadilha epistemológica...

    kkkkkkk..faz sentido?? kkkkkkk

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  6. Bela frase Edu!

    A vantagem que as afirmações teológicas tem sobre as confirmações científicas, é que são fundamentadas em axiomas. E como tal não precisam ser provadas, e como estão na categoria de axiomas, para os fideístas, elas são intocáveis.

    É a velha máxima da prioridade da fé sobre a razão, e aí amigo, ignora-se todo princípio epistemológico.

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    1. É isso! será tão difícil fé e razão andarem juntas, porém sem se misturarem? Ou será que elas devem se misturar? mas e quando o racionalismo cai nos mesmos erros do fideísmo? Podemos ser homens de fé(e teologia) sem assassinar a razão?

      Taí, Doni, algumas questões que você poderia abordar no seu próximo texto na confraria...rs

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