quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Resiliência


 Resiliência foi uma palavra utilizada pela primeira vez pelo físico Thomas Young em 1807 que a usou para descrever a capacidade de um corpo deformado por uma força externa voltar ao estado natural quando esta mesma força é cessada. Ela descreve a característica de um corpo ou de um objeto que lhe permite sofrer impactos ou deformações e em seguida recuperar a sua forma original. O elástico e a borracha é um bom exemplo de materiais considerados resilientes pela física. Porém a água é o material mais resiliente que existe. 

Apesar de ser um termo relativamente novo, pois só começou a ser adotado de forma sistemática a partir de 1998, é largamente aplicado em vários segmentos da sociedade: no mundo corporativo, no mercado financeiro, na medicina, mais sobretudo na psicologia. É lógico que nestas situações ele é empregado de forma figurada. 

Na psicologia é a capacidade que um indivíduo apresenta após um momento de adversidade de conseguir se adaptar ou evoluir positivamente às situações. É a flexibilidade, a habilidade para adaptar-se às mudanças, se reerguer. Em suma, é a capacidade de superar os traumas causados pelas perdas. Perdas de vidas, de bens, da saúde. Sem esse fenômeno uma mãe jamais suportaria a perda de um filho. É a capacidade de enfrentar as tragédias da vida, de transcender obstáculos, resistir às pressões, os choques, administrar tensões ou qualquer situação crítica. a expressão “poder de recuperação” de uma pessoa, trás o sentido de que ela sofreu algum dano, mas conseguiu se recuperar dele. A resiliência conduz a idéia de que o golpe foi totalmente absorvido, o que na psicologia é chamado de psicoadaptação. 

Na Bíblia, talvez a palavra que em seu significado mais se aproxima da resiliência seja a perseverança. Não obstante podemos identificar esta qualidade em muitos personagens. Nos patriarcas, líderes políticos e religiosos mais principalmente no apóstolo Paulo; leia o que ele disse em Filipenses 4:11-13:  “Não estou dizendo isso porque esteja necessitado, pois aprendi a adaptar-me a toda e qualquer circunstância. Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade.Tudo posso naquele que me fortalece”.

Certamente Paulo tinha muita coisa em mente, muitas experiências de vida ainda na memória ao fazer esta dissertação. Mais é apenas um entre milhões de indivíduos que tiveram na resiliência o segredo para a superação. 
Uma pessoa que tem baixo grau de resiliência suporta inadequadamente suas adversidades e crises. O que distingue o resiliente do não resiliente é exatamente a reação ou os efeitos que as adversidades produzem no aspecto psicológico: 
a pessoa resiliente se recupera com maior facilidade das experiências traumáticas sem ser tomada pela depressão, ansiedade e comportamentos de riscos. 
A pessoa resiliente consegue transformar as adversidades em oportunidades. O resiliente consegue superar os traumas sem querer se passar por vitima. A pessoa resiliente não apenas sobrevive ao impacto causado por uma contingência, mas sabe como curar as feridas e seguir em frente. O resiliente tem a capacidade potencial de sair ferido, contudo fortalecido de uma experiência traumática.
Todos nós conhecemos pessoas que passaram por situações críticas, entretanto deram a volta por cima, enquanto outros se entregaram a sua sorte. A diferença está justamente nesta habilidade de absorver os impactos provocados pelas experiências emocionais de forte intensidade.
Todas as pessoas precisam de resiliência, porque uma coisa é certa: “no mundo tereis aflições”. (Jô 16:33) Na vida está incluso momentos adversos. Ninguém, absolutamente, esta imune a esta realidade. A dor, as derrotas, as lágrimas devem ser sempre evitadas, mas ninguém vive continuamente em céu de brigadeiro. As turbulências são inevitáveis até mesmo em dias de céu claro.
A dúvida que surge é se a resiliência é inata ou adquirida? Segundo os especialistas na área de psicologia a resiliência não é uma característica que nasce com o indivíduo, mas sim uma particularidade que vai se construindo a partir das experiências, da interação da pessoa com o meio, com a conjuntura. Portanto se adquire a partir de um processo dinâmico. O que não quer dizer que quanto mais experiências trágicas mais resilientes a pessoa fica. Mas sim a maneira com que a pessoa encara àquela experiência.
Uma pessoa determinada, que não desiste de seus sonhos, apesar do seu caos, tem muito mais chance de usar seu caos como oportunidade criativa. A lição que aprendemos com o apóstolo Paulo é que, a resiliência torna a pessoa segura, estruturada, que não se submete às derrotas. Usa  as dificuldades, crises, perdas e adversidades como oportunidades. Geralmente as adversidades nos constroem ou nos destroem. Devemos usá-las sempre para se reconstruir.

"Quem tem "porque" viver pode suportar quase qualquer "como"  Nietzsche.

Um abraço. Donizete.

Bibliografia:
O código da inteligência, Augusto Cury, Ediouro
Artigo: Resiliência, o Verdadeiro Significado- Isabel Camilo Galieta
Dissertação: O que é resiliência humana – Uma contribuição para a construção do conceito. – Lisete Barlach

8 comentários:

  1. Resolvi publicar algo acerca da resiliência, em função de se tratar de uma virtude, (se é que possamos tratá-la assim) que tenho visto e vivido na prática.

    No início de 2008, a Marta, minha esposa teve que passar por uma delicada cirurgia cardíaca, onde duas válvulas, a mitral e a aórtica foram substituídas por válvulas de metais. Recuperação lenta que demandou os maiores cuidados imagináveis.

    Cerca de três anos, no dia 13 de março de 2011 para ser mais exato, outro incidente. Justamente quando a vida voltava a sua quase total normalidade, ela foi acometida por um AVC isquêmico, que paralisou parcialmente o lado esquerdo do seu corpo.

    Hoje, cerca de nove meses depois, devido às muitas sessões de fisioterapia semanais, tanto convencionais como na piscina, a reabilitação tem sido satisfatória. Ela já recuperou boa parte dos movimentos, principalmente das pernas e pés. O médico disse que os movimentos dos membros superiores, no caso do braço e da mão, a recuperação seria mais demorada mesmo.

    Para ela que sempre foi uma pessoa atuante, tanto na família como na igreja, no seu trabalho junto aos adolescentes, de repente se ver impossibilitada de fazer até mesmo as pequenas coisas do dia a dia foi traumatizante, como não poderia deixar de ser. A depressão bateu a porta! Contudo ela não se deixou abater. Ela possui esta capacidade de recuperação e adaptação extraordinária, que os estudiosos chamam de resiliência.

    Tanto é verdade que graças a Deus, ela nunca precisou tomar nenhum medicamento anti-depressivo. Isto eu considero essencial para sua total recuperação. Que pelo andar da carruagem será breve!

    Abraços. Conto com a apoio e oração de todos!

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  2. Donizete, não sei se é um fator genético, se é da criação ou se tem relação com a fé, mas a resiliência não é só uma virtude, é mesmo um dom.
    Conheço pessoas que desmoronam por incidentes simples e outras que "envergam mais não quebram".
    No meu caso, não sei se sou propriamente resiliente, pois sempre que atravessei um problema, foi na fé em Deus que encontrei as certezas, as respostas e a possibilidade de recomeçar.
    Fico feliz de saber que sua esposa é uma mulher forte e que tem um companheiro firme ao seu lado. Estarei orando para que logo se restabeleça e volte as suas atividades.

    Um abração para ti meu amigo!
    Aproveito a oportunidade para te dizer que chove no Rio rs...e desejar boas entradas de ano para sua família. Muito amor, união, fé e prosperidade em 2012!! Fica com Deus.

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  3. Boa base para seu texto a experiência da sua própria esposa. Que Deus a abençoe grandiosamente, que seja um tempo de aprendizado.

    As vezes penso em Paulo, e fico imaginando que para ele era mais fácil enfrentar certas situações porque ele não tinha esposa e filhos.

    Por outro lado, percebo que existem pessoas frágeis demais para lidar com as aflições deste mundo e sinto falta de comunidades que vejam com o coração.

    Eu, particularmente, aprendi que a tristeza não deve encontrar abrigo em meu coração e sempre procuro superação. Lembro-me que um espírito abatido ninguém pode suportar. Sei no entanto, que nem todos conseguem andar mais rápido.

    Muito bom seu texto. Beijo.

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  4. Mariani,

    Muitos estão reclamando de alguma coisa neste fim de ano. Um amigo meu por exemplo, disse que este ano deve ser esquecido. Isto por coisas pequenas, banais por que não dizer.

    Eu particularmente ao fazer minha análise da situação, sei fazer uso do "porquê" correto.
    Não o utilizo no sentido de questionar, de querer saber a razão. Mas sim como meio de expor as respostas que já são por mim conhecidas.

    Abraços. Fica com Deus!

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  5. "A dúvida que surge é se a resiliência é inata ou adquirida?"

    Creio nas duas possibilidades Doni, pois percebemos pessoas que "herdam" a mesma características de familiares com quem não tiveram contato.

    Desejo uma rápida recuperação a sua esposa e graça para vc e seus filhos administrarem esse processo.

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  6. Doni,

    Muito interessante teu texto. Creio também que existam pessoas mais predispostas a serem resilientes, outras, aprenderam a ser a duras penas.

    Eu me sinto um privilegiado. Nos meus 46 anos de vida tive muito mais "mar de almirante" do que tempestades; mas as tempestades que me vieram foram fortes demais, quase me fazendo morrer afogado. Acho que aprendi durante essas tempestades a ser resiliente, pois se não o fosse, não sei se estaria mais aqui.

    Sinto em saber desse problema complicado com tua esposa. Mas vejo em você uma serenidade e um equilíbrio memoráveis, que por certo, tem lhe ajudado a passar por esse deserto.

    Confesso que há muito tempo não oro a Deus pedindo nada, nem mesmo ajuda em alguma dificuldade. Acho que perdi essa dimensão da fé. Mas ainda tenho outras dimensões operando em meu ser psíquico e espiritual, que me fazem forte quando estou fraco.

    Desejo de coração o pronto restabelecimento da sua esposa, e creio mesmo que isso se dará em breve pelo grau de resiliência que você percebe nela. E a resiliência de mãos dadas à fé e à certeza, farão um bom trabalho.

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  7. Edu, Guiomar e Franklin,

    A reação ante as circunstâncias são determinantes para fazê-las mais ou menos sofridas. Inclusive as lições que podemos extrair delas dependem também desta atitude.

    Uma coisa é certa! São nestas situações que vemos ao vivo e a cores, nossas teorias sendo nocauteadas pelas contingências. Isto, no meu ponto de vista, é extremamente positivo para o futuro. Aprendemos lições que faculdades nenhuma são capazes de nos ensinar.

    Abração a todos!

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