sábado, 15 de outubro de 2011

Esperar ou esperançar.


“Disseram os filhos dos profetas a Eliseu: Eis que o lugar em que habitamos contigo é estreito demais para nós. Vamos até o Jordão, tomemos de lá, CADA UM DE NÓS uma viga, e construamos um lugar em que habitemos”.

Dizem que a decadência de uma sociedade começa quando o homem pergunta a si próprio: “o que irá acontecer? Em vez de inquirir: o que posso eu fazer?

A decadência , seja ela na sociedade mais ampla, seja em quaisquer instancias como família, trabalho, política, igreja etc. Principia quando o imperativo ético da ação é substituído pela acomodação e pela espera desalentada.

Isto acontece quando abrimos mão do dever que emana da liberdade de poder fazer, de fazermos uso da nossa possibilidade, ainda que limitada, de intervenção consciente. Isto se deve a um sorrateiro entorpecimento que acomete a muitos de nós, aniquilando pouco a pouco a nossa capacidade de reagir e apontar como fora do lugar muitas coisas que precisam se encaixar na vida cotidiana.

O fato é que nos tornamos experts na arte da crítica. Temos uma sensibilidade incomum para notar e apontar defeitos e falhas em qualquer segmento da sociedade, sobretudo no ambiente em que vivemos.

Estamos nos acostumando com rapidez e sem resistência ativa, com desvios que parecem fatais e inexoravelmente presentes, como se fizessem parte da vida e não há nada que se possa fazer para ser solucionado. É a prostração como hábito. É a fatídica e equivocada sensação de impotência individual que no fundo é a mais exata expressão de egoísmo e indiferença, mesmo sabendo que somos diretamente afetados como cidadãos. É aquela zona de conforto que estacionamos a nossa carruagem da vida, e caímos naquele conceito despolitizado de que o mundo é assim, que a vida é assim, e que nada posso fazer para mudá-la?

O texto sugerido aponta para um evento onde as pessoas envolvidas num problema não se limitaram a apontar as deficiências ou se acomodaram na perspectiva de que surgisse alguém capaz de resolvê-lo. Não se acovardaram ante uma demanda. Como disse alguém: “a covardia tende a projetar nos outros a responsabilidade que não se aceita”. Não ficaram estagnados, possuídos por um sentimento de resignação, conscientes que estava em suas mãos, literalmente falando, a potencialidade de soluções. Em suma: não foram cúmplices passíveis a espera de um milagre.

Podemos argumentar que temos esperança de que um dia as coisas mudarão...

Mas como dizia o brilhante educador Paulo Freire: não se pode confundir esperança do verbo esperançar com a esperança do verbo esperar. Alias, uma das coisas mais perniciosas que temos nesse momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações as pessoas acham que não tem mais alternativas que a vida é assim mesmo...Violência? o que posso fazer? Espero que termine... Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam... Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam... corrupção? O que posso fazer? Espero que aniquilem... Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de algum modo.

E se algo que tanto Paulo freire como Cristo fez o tempo todo foi incendiar a nossa esperança.

Abraços.    

10 comentários:

  1. Donizete, as vezes me sinto assim, sem ânimo para inganjar em uma luta por dias melhores. Penso que temos leis, mas quando queremos fazer uso delas, encontramos uma "burocracia" poderosa para nos desgastar. Penso que a igreja que deveria ser sal, mudar a história dos menos favorecidos, está enjaulada nas suas próprias cobiças e politicagem. Então, grito: Deus, não quero ser polêmica, criar problemas para alguma comunidade com que me envolva... mas sinto que é impossível lutar sem confrontos. Assim, que, sem pertencer efetivamente a nenhuma delas, tenho contribuído com algumas que respeitam a minha liberdade de não pertencer.

    Fiquei contente vendo o vídeo do dia 12 de outubro, quando uma maioria jovem protestou, e em uma das faixas li o seguinte: "ANTIGAMENTE, OS CARTAZES NAS RUAS E ROSTOS DE CRIMINOSOS OFERECIAM RECOMPENSA, HOJE PEDEM VOTOS"

    Hoje estou um tanto vencida pela enfermidade, mas já vai passar.

    Beijo.

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  2. Donizete, Seu texto é lindo e bem acessível. Gostei muito e posso dizer que tenho pensado muito nesse tema: arregaçar as mangas! Depois dos trinta vc começa a ver q o tempo tá passando e q ainda há sonhos materiais e coisas q projetou para sua vida espiritual e por vc mesmo que ainda não conseguiu realizar e sempre o que se coloca é a dificuldade e a esperança: "Se Deus quiser..." E nem é um "se Deus quiser" ativo e cheio de fé. É quase um suspiro enfadonho.
    Me vejo assim em muitas coisas. Seu texto me provocou. Um abraco.

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  3. Guiomar,

    É importante saber e acreditar que temos condições de transformar nossas vidas, nossos ambientes sejam em quais níveis forem. Talvez a maior dificuldade que temos é de nos conscientizarmos que pequenas atitudes podem mudar a sociedade. a alienação de muitos é devido ao fato de cada um, tentar transferir as responsabilidades à terceiros.

    É lógico Guiomar, que ninguém deve se sentir revestido por um messianismo utópico. Mas imagine se as mudanças começarem por nossa “casa”?

    Abraços. Desejo-lhe plena e rápida recuperação.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Mariani,

    O fotógrafo dinamarquês Jacob Riis através das mais excelentes fotos , consignou a a humana capacidade de não desistir em uma belíssima imagem, ao dizer que "quando nada parece ajudar, eu vou e olho o cortador de pedras martelando sua rocha talvez cem vezes sem que uma única rachadura apareça. No entanto, na centésima primeira martelada, a pedra se abre em duas, e eu sei que não foi aquela a que conseguiu, mas todas as que vieram antes".

    São imagens que como você disse nos provoca a desprender-nos do marasmo. A esperança Mariani, atua como uma produtora de futuro e ao mesmo tempo como uma aniquiladora da dureza do existir.

    Volte sempre.

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  6. oi doni, beleza?

    texto excelente. um chamado à ação e um não à esperança que só espera. como diz a letra dos paralamas do sucesso, "a arte de viver da fé, só não se sabe fé em quê".

    quando só temos fé e não fazemos nada para mudar situações essa fé torna-se perigosa.

    tenho acompanhado os protestos na europa e nos eua contra o sistema financeiro do capitalismo selvagem(há capitalismo civilizado?) que mais uma vez está jogando o mundo numa provável recessão com crises sociais preocupantes.

    e fico pensando: o que essas pessoas podem fazer contra um sistema global que mesmo provocando catástrofes econômicas de tempos em tempos, nunca muda?

    e também fico pensando na chamada "primavera árabe" que derrubou longas ditaduras mas também preocupado com o que vão colocar no lugar das ditaduras.

    ao mesmo tempo que lembro da vida de indivíduos que por não se acomodarem, mudaram o rumo da história diversas vezes em todas as áreas sociais.

    enfim, teu texto é um alerta contra o comodismo. provavelmente não posso mudar o mundo, mas com certeza, posso mudar meu mundo.

    e parafraseando o mestre, de que adiantaria mudar o mundo e perder a própria alma?

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  7. Donizete, profundo e provocador o texto.

    Realmente precisamos desenvolver a arte de não somente criticar, mas de dar forma definida e construtiva a essa sensibilidade crítica.

    No popular, fazer a diferença.

    Muito bem argumentado o texto!

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  8. Edu, "provavelmente não posso mudar o mundo, mas com certeza, posso mudar meu mundo."

    Ouvi de um pastor, desta última vez que estive na Bolívia, esta frase, que já ouvi de uma chefe de bloco cirúrgico, outra vez: você não pode mudar o mundo, Guiomar!

    A médica eu respondi a altura, mas ao pastor eu me contive, por causa das pessoas membros de sua igreja, que estavam à volta. Mas me arrependo muito de não haver dito a ele, que ele mesmo estava ali, porque fui além fronteira com o propósito de mudar o meu mundo.

    Valeu Edu. Beijão.

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  9. Doni, seu texto se parece um pouco com o texto do Fabio, estamos tão acostumados de que nada vai mudar, que nos acomodamos, mas seu texto é um chamado ao inconformismo, um chamado para mudança, mesmo que seja só até o nosso quintal rss, ou seja nosso mundo. Paz querido!

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  10. Oi Doni que belo texto e que definição legal sobre esperança.

    Eu me tornei um acético a respeito de mudanças a partir da política e da sociedade.

    Veja que se houver mudanças elas acontecerão quando houver uma mentalidade nova, mas pelo que vejo esta mentalidade novo está longe der um embrião, imagine então ser adulta.

    Mas eu sou um cara cheio de esperança eu creio nesta geração que vem vindo. Me parece pelas filhas que tenho que algum aspecto está havendo uma probabilidade grande de gerar uma sociedade mais tolerante e mais compreensiva.

    Por outro lado em questão de consciência política esta fadada a piorar.

    Mas a esperança é a última que morre rsrsrs

    Como se diz: Esperar contra toda esperança.

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