Há uma reflexão do educador Paulo Freire muito difícil de ser decorada, pelo menos para mim que sou péssimo em decoreba. Mas toda vez que penso em protelar qualquer coisa que não devo protelar, me lembro dela. É assim: “A melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa que não é possível de ser feita hoje é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito. Mas se eu não fizer hoje o que hoje pode ser feito e tentar fazer hoje o que hoje não pode ser feito, dificilmente eu faço amanhã o que hoje também não pude fazer”. Sábia advertência. E talvez para que eu não acuse a mim mesmo de procrastinação, é que resolvi colocar algo que presencio com freqüência na igreja, a qual com a mesma freqüência, ainda que seja em vão, sempre exponho minha opinião ou crítica contrária.
A cena é a sempre a mesma que se repete em boa parte das igrejas pentecostais e neo-pentecostais com ênfase no evangelho da prosperidade, portanto deixa de ser novidade para muita gente.
O Pastor, ainda juvenil, mas demonstrando que aprendeu rápido a lição de casa, no momento da oferta, solicita que os irmãos mostrem sua generosidade contribuindo com o melhor, ou seja; tire de sua carteira a nota de maior valor que tiver. Para servir de exemplo a ser seguido ele próprio, saca do seu bolso uma cédula de 100 reais, e continua convidando as pessoas, quase que na base da coerção a imitarem seu gesto, pois seria no caso, esta prova de desprendimento, fator decisivo para ter as mãos do senhor movidas a seu favor.
Depois de alguns minutos de insistência pediu aos irmãos que pegassem suas ofertas, fechassem suas mãos e as elevassem ao céu que ele iria dirigir a Deus sua intercessão de forma bem objetiva, e iria reivindicar a benção merecida, e apelou para a lei da causalidade de tal maneira que certamente fez David Hume se mexer em seu túmulo.
A oração foi mais ou menos assim: “Senhor. Peço que abençoe muito a quem muito ofertou, como também gostaria que o senhor abençoasse pouco a quem pouco deu. Seguindo esta mesma lógica prosseguiu: e peço que o Senhor feche as mãos, prive de benção quem não quer ter o compromisso com tua obra.....” e assim continuou.
Meu Deus! Uma oração relativamente curta, mas tão repleta de heresias que faria Ario, Sabélio, Montano e outros hereges a rasgarem suas vestes em sinal de repúdio. Infelizmente, digo com tristeza, esta é a idéia central das mensagens que ouvimos no que diz respeito a contribuição cristã, ainda que muitos sejam mais discretos, contudo, o teor, não foge muito dessa realidade. O método é sempre o mesmo; negociata e barganha com Deus, como se Deus se deixasse levar ao ponto de descer a este nível tão peculiar ao ser humano, que é retribuir com bondade apenas aqueles que fizeram por merecer.
Donizete.
Há ainda algo que pouco se fala na igreja:
ResponderExcluiro dizimo não é apenas para manutenção da igreja e salários de pastores. De acordo com Leviticos ele deveria ser usado também para ajuda dos necessitados da igreja, mas para isso na maioria das igrejas foi criado o "kilo".