Durante á história da igreja, aconteceram diversas mudanças de paradigmas envolvendo até mesmo as doutrinas centrais da fé cristã. Uma delas é a soteriologia, divisão da teologia sistemática que estuda a salvação humana.
Cada religião oferece um tipo diferente de salvação e possui sua própria soteriologia. Algumas dão ênfase ao relacionamento do homem em unidade com Deus, outras dão ênfase ao aprimoramento do conhecimento humano como forma de se obter a salvação.
Na ortodoxia cristã, a salvação é estabelecida através de Jesus Cristo. A soteriologia no cristianismo estuda como Deus separa as pessoas condenadas pelo pecado e os reconcilia com Deus. Os cristãos recebem o perdão dos pecados, vida e salvação adquirido por Jesus Cristo através de seu sofrimento inocente, morte e ressurreição após sua morte. Esta graça da salvação é recebida sempre pela fé em Jesus Cristo , através da palavra de Deus. Note que, nesta breve inserção estão inclusos todos os elementos que envolve um estudo com perspectivas soteriológicas.
Mas pretendo chamar a atenção para os diferentes modelos de salvação. Em dado momento da história, a salvação era projetada para o âmbito da objetividade e da prática, em outros para a subjetividade e abstração. Durante a maior parte do tempo a salvação esteve ligada ao campo físico e tangível, em outros a salvação é sempre associada à esfera espiritual, metafísica. Grupos cristãos advogam que a salvação é holística, abarca o indivíduo na sua plenitude, enquanto outros defendem uma tricotomia, e que a parte onde à salvação é levada ao efeito, é apenas a espiritual.
É nessa discussão que incluímos Paulo como personagem principal. Visto ser ele um grande empreendedor no campo missionário, sempre anunciando o evangelho de Cristo, do qual ele afirmou que não se envergonhava, porque era o poder de Deus para a SALVAÇÃO de todo aquele que crê.
Surge então uma pergunta pertinente: Salvação do que, visto que Paulo não possui uma doutrina de inferno? Qual seria então a essência da mensagem pregada por Paulo tanto a Judeus como aos gentios?
Seria importante considerar que o cristianismo teve sua nascente no judaísmo. E precisamos entender que a salvação no judaísmo não tem o mesmo sentido salvífico do cristianismo. No judaísmo não há promessas de um mundo porvir, nem paraíso, e nem inferno. De modo geral a idéia de salvação no antigo testamento é essencialmente materialista. Está sempre ligada à libertação de perigos, cura de enfermidades, e por fim, a vitória final sobre os inimigos e a possessão definitiva de Sião.
Uma similaridade entre o judaísmo e o cristianismo é no tocante a ressurreição. Contudo ela é baseada em premissas diferentes. A salvação final para o judaísmo não é exclusiva dos judeus. Mas se estende a todos os homens de bem, seja qual for o seu credo, que pautaram sua vida em padrões éticos e de justiça. Mesmo aqueles que não agiram tão bem, mas são capazes de arrependimento, merecem sobreviver por todos os tempos, quando o Messias chegar.
Por Donizete.
Donizete, vc fala que Paulo não tinha a doutrina do inferno em mente quando falava de salvação. O que as pessoas da época de Paulo compreendiam das palavras de Jesus sobre a grande ceia, os cães ficarem de fora e aquela coisa toda de ranger de dentes? Pois atualmente essa é parte do evangelho usada para falar de inferno e separação. Paulo não teria essa visão?
ResponderExcluirAbraços. Fica com Deus.
Oi Mariani.
ResponderExcluirSua pergunta é muito importante. Pois a resposta serve como ponto de partida para o início da discussão, sem ter que necessariamente ter procedido a leitura da segunda parte.
Mariani, Paulo como qualquer outro judeu de sua época, possuía a mesma concepção de continuidade da existência após a morte que seus antepassados tinham.
Para o judeu a morte era vista como o fim das atividades e relacionamento da pessoa com este mundo. Esperavam sim que um dia sua alma fosse tirada do sheol (inferno=sepultura) através duma ressurreição. No livro profético de Daniel há uma referência a este tema. (lembrando que este livro já pode ter sofrido alguma influência grega, sobretudo dos ensinos de Zoroastro)
O juízo ou castigo sobre os maus era visto de um ponto de vista imediato, que viria por meio da espada, de pestes, calamidades etc. muito vagamente era referido sobre um castigo escatológico para os ímpios.
Quem de fato muito escreveu sobre o inferno como o conhecemos hoje, foram os evangelistas. Escritos estes que Paulo não chegou a conhecê-los, visto que foram escritos após a sua morte.
Meu objetivo nesta postagem Mariani, é refletirmos sobre o teor da mensagem pregada por Paulo, já que ele não possuía o mesmo conceito de salvação que toda a cristandade confessa atualmente.
Abraços. Fica com Deus!
Certo. Me esqueci do fato q os evangelhos foram escritos depois. Verdade!!
ResponderExcluirAbraços. Fica com Deus!
E aê Doni, avisa pra esse tal de Paulo aí, que se ele continuar com essa parada de "Universalismo", eu tô dentro pra botar pra quebrar! rsrsrs
ResponderExcluirCara como já comentei exaustivamente em outros blogs de amigos, GRAÇA pra mim só ser for na perspectiva "Universalista", pois não dá pra conceber um Deus que cria seres para selecioná-los com direito aos queridinhos pro céu e os malvadinhos pro inferno.
Se assim for, quem é o diabo?! Prefiro crer num Deus (independente de escrituras e já me tornando um herege) que ama todas as suas criaturas e deseja em última análise levá-las ao ápice da sua paixão para uma eternidade de plenitude indistintamente.
Meu amigo Franklin,
ResponderExcluirÉ difícil a nossa mente processar o conceito da graça de Deus desconectado duma postura universalista.
Também considero tentadora a ideia de ignorar uma tensão entre dois aspectos da natureza de Deus. Ou seja, que Ele é essencialmente amor, e que não se aborrece com nossos comportamentos, seja lá qual for.
Mas acredito que a nossa reflexão acerca de Deus, deve ir além da superfície; seja bíblica ou de nossa particularidade epistemológica.
O conceito universalista defendido por William P. Young (a cabana) e Philip Yancey (vários títulos com esse viés), é o sucesso do momento. Agora, não seria essa, uma forma de adequar Deus segundo nossos padrões ao ao invés do caminho inverso?
Lembre-se que a graça tem alcance universal. nisso não há duvida! Assim como tem também a fé.
Baseado nisso, não haveria nenhuma incongruência em estabelecer um sinergismo nesta relação.
Pense a respeito. Abraços!
Doni, Paulo fala dos mortos em CRISTO, que serão ressuscitados e arrebatados para o encontro com Cristo nos ares, ainda que ele não fale sobre o destino dos que ficarem, por que ele se empenhou tanto em falar da salvação, santificação... Por outro lado o próprio Jesus falou diversas vezes sobre o inferno, é natural que os discípulos que aprenderam diretamente com Jesus, tivessem comentado mais sobre o inferno, apesar que em quase toda a bíblia encontramos referências ao inferno.
ResponderExcluirBom, apesar de que, os discípulos eram judeus, havemos de convir que eles tinham um entendimento de vida eterna, diferente dos judeus que não aceitaram o Messias.
Eu não quero mesmo nem pensar em pessoas indo para o inferno, mas acho que não podemos ter uma certeza do que acontecerá no juízo final, apenas por informações históricas.
Bom texto.
Franklin, você já determinou? kkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirantes de comentar a primeira parte do teu texto, quero dizer que tomei a iniciativa de abrir nosso blog coletivo(já que todos acharam bom a ideia, exceto o rodrigo que achava que isso devia ser feito através do caminhos da teologia).
ResponderExcluirmas como minha conta no blogger está com problemas, não consigo atualizar o caminhos da teologia e nem torná-lo coletivo.
por isso, abri uma nova conta no blogger e fiz o novo blog. vou mandar o convite para todos serem tanto administradores quanto escritores do blog.
depois agente melhora o modelo; estou pensando até em registrar um domínio ponto-alguma-coisa(com, net, br)para ele.
o endereço é http://logosemithos.blogspot.com/
Confraria teológica Logos e Mythos - esse é o nome do blog que eu, ditatorialmente, criei...kkkkk quem não concordar, que ê outros nomes, aí agente vê se muda.
deixei lá de início um texto do JL exatamente sobre "logos e mitos".
vou avisar ao pessoal lá pelo face.
pois é, o nome da minha nova conta é "carlos".
ResponderExcluirsabia que eu sou "carlos eduardo", né?
doni,
tema interessante você propõe. realmente, em nenhum momento, paulo esboça uma teologia do inferno, somente da salvação. de início, ele é bem inexpressivo, não tinha ainda, creio, um pensamento bem elaborado quanto a isso, já que ele diz aos tessalonicenses apenas que depois da ressurreição e da parousia, iríamos nos encontrar com jesus "nas nuvens" e estaríamos assim para sempre com o senhor.
essa é uma teologia bem restrita. ficar com o senhor para sempre nas nuvens...???
em alguns momentos, paulo parece escrever textos universalistas, em outros, parece negar o universalismo.
parece certo que nem tudo o que se diz texto de saulo de tarso era de fato, dele. ou podemos admitir que o seu pensamento sofre mudanças com o tempo, o que seria também, natural.
para mim, paulo teve duas grandes virtudes: foi verdadeiramente o construtor teológico do cristianismo separando-o do judaísmo; mas ao fazer isso, não conseguiu se livrar de todo do pensamento judaico na nova religião, o que ao meu ver, deu ao cristianismo uma certa "crise de identidade".
volto depois.
doni,
ResponderExcluirsobre sua resposta à mari
"Quem de fato muito escreveu sobre o inferno como o conhecemos hoje, foram os evangelistas'
e aí eu lhe pergunto: escreveu muito sobre o inferno baseado numa "contaminação" da concepção grega do hades?
eu duvido muito que o jesus histórico tivesse uma ideia tão grega a respeito do hades.
doni,
ResponderExcluirsobre sua afirmação
"O conceito universalista defendido por William P. Young (a cabana) e Philip Yancey (vários títulos com esse viés), é o sucesso do momento. Agora, não seria essa, uma forma de adequar Deus segundo nossos padrões ao ao invés do caminho inverso?
aí eu te pergunto: há outro caminho a não ser adequar Deus às nossas compreensões históricas teologicas? a negação disso é a afirmação equivocada(no meu ponto de vista) de que os escritores bíblicos estiveram livres dessa "adequação" ao longo da história bíblica, o que parece bem claro se lermos a bíblia pelo viés e histórico-religioso e não somente a partir de uma fé cristã que já se chega ao texto com suas pré-compreensões do que o texto deve dizer
Oi Guiomar.
ResponderExcluirHá uma continuidade nas narrativas de Lucas em relação ao seu evangelho e atos. E acredito que ele não tenha mudado seu parecer de uma narrativa a outra em relação à salvação.
Vemos nas entrelinhas que ele sugere que a salvação para os judeus implicava no seu reconhecimento de Jesus como o Messias, em quanto que para os gentios, que se afastem de seus ídolos e passem a crerem Cristo.
A questão é sabermos Guiomar, já que Paulo não deixa claro qual a situação dos que não ressucitam no arrebatamento, se a sua mensagem era apenas eminentemente positiva, no sentido de levar o povo gentílico o desejo de evocar a confissão de que “Jesus é o Senhor”.
Com isso muda a motivação. Lembra-se que a nossa motivação para pregar o evangelho, em lugares onde ele é totalmente desconhecido, parte do pressuposto de que se não chegarem aos seus ouvidos a mensagem de Cristo, estarão irremediavelmente perdidos, condenados ao juízo escatológicos.
Mas será que reside aí o fator motivacional de Paulo, em não medir esforços para ser um desbravador tão dedicado? Se ele próprio disse que existe uma lei interior inata ao homem que o leva ao conhecimento de Deus?
Outro detalhe: visto que não encontramos em Paulo, uma mensagem de destruição apocalíptica ou de um juízo escatológico, será que ele não via a salvação no mesmo sentido do texto de Lucas 4, onde salvação é vista na mesma ótica judaica? Ou seja, dar equidade social ao pobre, libertação aos cativos, vista aos cegos etc. Sempre numa perspectiva prática, não subjetiva como cremos atualmente?
Note que quando Jesus disse a Zaqueul, que naquele dia havia chegado salvação a sua casa, não podemos entendê-la no sentido escatológico. Mas sim por uma libertação da avareza, do mesmo modo da salvação sugerida ao carcereiro de Filipos. Senão teríamos que entender que a salvação se dá em termos coletivo, como foi entendida durante toda a idade média.
Consideremos tudo isso na nossa formação de opinião a respeito do tema.
Abração Pastora!
Edu,
ResponderExcluirSobre a questão levantada com a Mari:
Li recentemente um artigo que explica bem o que já sabemos. Só para constar vou colocá-la nessa discussão.
“Uma análise imparcial e abrangente de todas as ocorrências da palavra "Seol" ou "Hades", incluindo o contexto em que surgem, revela que estão sempre associadas com a morte e os mortos, não com a vida e os vivos. Essas palavras, intrinsecamente, não contêm nenhuma idéia ou sugestão de prazer ou de dor. A palavra latina correspondente a Hades é inférnus (às vezes ínferus). Esta palavra significa "o que jaz por baixo; a região inferior", e se aplica bem ao domínio da sepultura. Ela é assim uma apta aproximação dos termos grego e hebraico, não no significado que a palavra portuguesa inferno veio a ter no imaginário popular, como um lugar de tormento ardente, mas sim como o lugar figurativo dos que estão mortos.”
Sobre sua pergunta:
“e aí eu lhe pergunto: escreveu muito sobre o inferno baseado numa "contaminação" da concepção grega do hades?”
Devemos nos lembrar Edu, Que a palavra grega “hades”, apenas substituiu a “sheol” hebraica quando as escriturar foram vertidas para o grego. Mas ambas tem o mesmo significado. A cristandade sim deu a ela os contornos que ela possui atualmente.
Edu, ou melhor; Carlos Eduardo.rsrsrs
ResponderExcluirSobre sua segunda consideração.
A questão que eu levantei, foi no sentido de adequar nossa visão de mundo aos parâmetros bíblicos X adequar a Bíblia a nossa cosmovisão atual.
E aí fazemos esse esforço considerável para que nossa verdade esteja em pé de igualdade com as verdades bíblicas. Leia-se, verdades bíblicas não verdades defendidas pelos autores.
É lógico que não podemos ignorar o fato que, todos os escritores viveram num mundo pré-científico, e que muitas coisas mudaram. Mas o que não deixa nenhuma dúvida, é o fato que, para compartilharmos uma mesma noção, como por exemplo: a concepção adotada por Yancey em relação a homossexualidade, temos que particularizar nossa epistomologia. Pois não poderíamos usar a bíblica. Visto que esta se opõe a qualquer tipo de phornéia.
E neste caso específico Edu, você há de convir comigo, não cabe nem mesmo uma contextualização.
Abraços. Até mais!
Doni, "Vemos nas entrelinhas que ele sugere que a salvação para os judeus implicava no seu reconhecimento de Jesus como o Messias, em quanto que para os gentios, que se afastem de seus ídolos e passem a crerem Cristo."
ResponderExcluirOu seria porque os judeus desde sempre tiveram um governo teocrata, e se envolviam com ídolos apenas quando se afastavam de Deus, mas necessitavam agora reconhecer em Jesus o Messias prometido através dos profetas; enquanto que os gentios eram totalmente ignorantes a respeito da promessa do Redentor?
Em Atos também, quando os gentios estavam sendo perturbados por exigências judaicas, os presbíteros decidiram enviar recomendações para eles no sentido de que se abstivessem das coisas sacrificadas a ídolos...
Doni, "Outro detalhe: visto que não encontramos em Paulo, uma mensagem de destruição apocalíptica ou de um juízo escatológico, será que ele não via a salvação no mesmo sentido do texto de Lucas 4, onde salvação é vista na mesma ótica judaica? Ou seja, dar equidade social ao pobre, libertação aos cativos, vista aos cegos etc. Sempre numa perspectiva prática, não subjetiva como cremos atualmente?"
ResponderExcluirEu entendo que a motivação de Paulo era realmente de levar a salvação. Veja que quando ele vai com Barnabé pregar o evangelho, ele recebe recomendação de Pedro, Tiago e João, para que se lembrassem dos pobres. Ou seja, anunciar as boas novas, sem esquecer do serviço social.
Vemos também em outros relatos que Jesus se preocupava sempre com os pobres, o que seria natural que os seus discípulos houvessem aprendido com Ele, mas a mensagem de Jesus era de arrependimento e vida em sua essência.
Doni, "Note que quando Jesus disse a Zaqueul, que naquele dia havia chegado salvação a sua casa, não podemos entendê-la no sentido escatológico. Mas sim por uma libertação da avareza, do mesmo modo da salvação sugerida ao carcereiro de Filipos. Senão teríamos que entender que a salvação se dá em termos coletivo, como foi entendida durante toda a idade média."
ResponderExcluirBom eu acredito que quando Jesus disse a Zaqueu que entrou salvação na casa dele, não seria necessariamente a toda a casa.
Se eu estou enferma e chega a cura para mim, alguém pode dizer: Hoje chegou cura nesta casa ou a esta casa. Inclusive Jesus fala da salvação, exatamente depois que ele reconhece seus erros e promete se redimir. Ele se refere diretamente a Zaqueu dizendo: Hoje, houve salvação nesta casa, pois que também ESTE é filho de Abraão. Porque o filho do homem veio buscar e salvar o perdido.
No caso do Felipos, veja que Paulo profetizou, tanto que naquela mesma noite foi batizado ele, com toda sua casa. Atos 16.34.
Guiomar,
ResponderExcluirA compreensão que temos da missão de Jesus refletida nos evangelhos, de fato nos mostra que Ele mergulhou nas circunstâncias reais dos necessitados, e oprimidos. Num modelo de teologia chamado de BAIXO PARA CIMA, conclui que Cristo está também hoje, onde se encontram as pessoas exploradas e marginalizadas. O "Eis que faço nova todas as coisas" deve ter aplicação imediata.
O que temos que ter em mente, é que quando há uma ruptura dum paradigma, (e houveram alguns durante a história da igreja concernentes à natureza da salvação) esta ruptura não é abrupta. Geralmente um paradigma novo, tem seus batedores , que ainda operam no velho. Isso se aplica à modelos de teologias também. dificilmente um modelo novo de teologia, não vive em partes o antigo concomitantemente.
O que volto a frisar Guiomar, é que nos escritos de Lucas, Salvação se realiza nesta vida. Salvação é presente, como para o judaísmo. E foi com esta concepção de salvação que Paulo inicia seus programas de missões.?
Você pode até argumentar que posteriormente, a salvação para Paulo sem dava através de um processo. Ou seja, começa nesta vida com uma renovação radical, mas com ênfase para uma salvação abrangente reservada para o futuro.
Até mais. Um abraço!
Doni, "O que temos que ter em mente, é que quando há uma ruptura dum paradigma, (e houveram alguns durante a história da igreja concernentes à natureza da salvação) esta ruptura não é abrupta. Geralmente um paradigma novo, tem seus batedores , que ainda operam no velho. Isso se aplica à modelos de teologias também. dificilmente um modelo novo de teologia, não vive em partes o antigo concomitantemente."
ResponderExcluirConcordo plenamente, mas creio que a essência é o que perfuma as mãos dos que captam a mensagem real.
Quanto a Lucas, será não me fiz entender?
Abraço.
Guiomar,
ResponderExcluirConforme eu disse tanto no texto como em alguns comentários que fiz, a concepção de salvação sofreu várias alterações na história.
O paradigma atual crê que a salvação vem totalmente de fora, de Deus, totalmente inacessível a capacidade humana. Salvação na concepção moderna, é ter uma transformação moral, ter seu nome escrito no livro da vida, para que no juízo final não venha a ser jogado no lago de fogo etc...
Desconsiderando é claro, o advento da teologia da libertação, que provocou a primeira crise nesse conceito.
A salvação na concepção moderna é individual, mas durante boa parte da era medieval era coletiva.
No caso de Lucas, o que eu quis dizer, é que ele emprega uma linguagem de salvação num espectro de circunstâncias humanas. Assim como todo o Antigo testamento o faz. O Êxodo foi a salvação para israel. Ciro foi o salvador do cativeiro etc...
Salvação na concepção lucana era o fim da pobreza, discriminação, doença, possessão, pecado. Ou seja, era bem mais ampla. Num período de dominação e opressão romana, significava o fim do sofrimento econômico, social, político, etc... (Lc 4:18-21; 19:9;)
É nesse sentido que disse que a salvação para Lucas, é algo que se realiza nessa vida. É aqui e agora.
Abração!
A ressurreição diz respeito mais a um judaísmo tardio após o exílio. Trata-se na verdade mais de um "despertar" do que uma apotheosis...
ResponderExcluirÉ curioso por que o judaísmo primitivo não teria se preocupado tanto com a salvação da alma?!
Penso que, antes da religião judaica ter sido contaminada com o maniqueísmo persa, não deveria haver tanta preocupação com o futuro e nem com o mal personificado num satan. A salvação certamente estava relacionada à fé em Deus e ao viver na justiça pela confiança no Eterno. Seguindo o caminho dos justos e meditando nan Torá o homem não seria destruído.
"O conceito universalista defendido por William P. Young (a cabana) e Philip Yancey (vários títulos com esse viés), é o sucesso do momento. Agora, não seria essa, uma forma de adequar Deus segundo nossos padrões ao ao invés do caminho inverso?"
ResponderExcluirBoa pergunta!
Sem dúvida esta questão é quase sempre levantada pela ortodoxia em face do universalismo.
Mas aí, se não houver um entrelaçamento com a Tanak, da qual o NT tenta tirar toda a sua base teológica e cristológica, precisamos por em dúvida a ideia porque, na certa, foi invencionice dos padres quando corromperam a mensagem escrita dos evangelhos.
Definir como teria sido o cristianismo dos primeiros séculos em sua rica pluralidade teológica e mais ainda quais foram os ditos autênticos de Jesus são tarefas dificílimas para qualquer pesquisador. Logo, se aparecem trechos nos evangelhos em que Jesus supostamente teria pregado sobre o inferno, precisamos investigar estes textos com mbastante atenção.
Tenho pra mim que a ideia de um inferno já fosse desenvolvida nos tempos de Jesus. Pode ser que tivesse algum paralelo mitológico num judaísmo pós-bíblico. E, fora isto, as referências feitas em seus ditos registrados nos evangelhos parecem-me mais como ilustrativas de um outro discurso do que a deesa de uma tese pró-inferno.
De todos os livros, o que mais apavora os leitores sobre uma condenação eterna seria o Apocalipse que, embora seja considerada uma obra de inspiração não cristã e com fortes paralelos em relação ás Escrituras hebraicas, foi colocado em suspeita por Lutero. E, embora tenha traduzido-os para o idioma alemão, Lutero considerou as epístolas de Hebreus, Tiago, Judas e o Apocalipse como obras inferiores, colocando-as no final da sua Bíblia e tendo somente os demais livros "os verdadeiros, seguros e mais importantes livros do Novo Testamento".
Tenho pra mim que a inspiração divina encontra-se em toda a parte e que não existe um cânon escolhido por Deus. Todos os livros, oficiais ou não, têm algo da realidade a nos contar, bem como da fantasia humana.
Abraços.
Rodrigo,
ResponderExcluirSeu primeiro comentário sintetiza brilhantemente tudo que propus através das duas postagens acerca desse tema.
Nada a questionar na sua dissertação no segundo! Assino embaixo de cada colocação.
Só um adendo.
Como é intrincado o fato dessa questão da doutrina de inferno, só ter começado a ganhar forma no final do primeiro século. E ainda tendo em Jesus seu principal articulador. Tanto que, cristãos entusiasmados com essa ideia, dizem em altas vozes: "Jesus falou mais sobre o inferno do que do céu" Mas será?...
Outro detalhe curioso Rodrigo, já que você citou os padres que corromperam os escritos. É em relação ao nascimento virginal de Jesus. Porquê o grego Lucas foi quem deu detalhes acerca dessa questão? visto que Marcos, que é tido pela crítica, como sendo o primeiro a escrever a história de Jesus, nada escreveu a respeito?
Como disse certo pensador: "o que não sabemos sustenta o que sabemos"
Abraços.
Caro Donizete,
ResponderExcluirEu não creio que foram Mateus, Marcos, Lucas e João os autores desses evangelho oficiais. Foram justamente os padres do século II quem os escreveram.
O cristianismo é pra mim uma invenção grega! Uma religião pagã que tentou substituir o Judaísmo, sendo que o judeu Yeshua ben Yosef certamente não era cristão.
Assim, baseados em tradições orais de segunda ou terceira geração de discípulos, os pais da Igreja parecem ter criado um Jesus arquetípico que não correspondeu ao Yeshua que viveu nas primeiras décadas do século I. Basearam o seu suposto nascimento virginal não só numa equivocada tradução de Isaías (o certo é "eis que a jovem conceberá") e ainda houve comunidades que trataram de divinizar o Messias, o que contraria frontalmente à concepção messiânica judaica que vê no Massiash uma figura humana.
De certo modo, houve pluralidade no cristianismo até Constantino e o Concílio de Niceia. Os católicos não foram os únicos que pregaram Jesus, mas foram eles quem estabeleceram o cânon, escolhendo os livros que lhes interessaram e excluindo os que não interessaram.
Infelizmente, pouco sabemos hoje acerca da vida e da obra de Yeshua. E esta investigação para definir a historicidade e quais ditos atribuídos a ele seriam autênticos são tarefas ingratas sem nenhuma previsão de que o quebra-cabeça fique montado na nossa geração ou nas próximas. Logo, resta-nos saborear cada passagem da Bíblia, mesmo das manifestas alterações, extraindo delas os ensinamentos importantes para a Vida e sem fazermos do livro uma verdade absoluta. Afinal, a Palavra de Deus é algo imaterial e incapaz de ser fixada em papel através de conceitos imutáveis.
A letra mata, mas o Espírito vivifica!
OBS: Dá uma lida nos últimos comentários que fiz lá no blogue do Franklin (Conexão Graça).